O viés da representatividade e como ele afeta as apostas esportivas
Daniel Kahneman, autor do livro Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar, afirma que:
“A heurística da representatividade é insensível às taxas de base e à probabilidade a priori. A história convincente sobre o que parece ser um traço de personalidade, ou um tipo de pessoa, é mais importante para o julgamento do que a lógica da probabilidade.”
Kahneman destaca, em sua obra, como a nossa mente prefere uma “história” que se encaixa em nossos preconceitos, em vez de se basear em dados concretos e na probabilidade real, o que é a essência do viés da representatividade.
Atalho mental
O viés da representatividade é um atalho mental que nos leva a tomar decisões baseadas em nossos sentimentos, e não na lógica ou na racionalidade. Essas “armadilhas” mentais nos impedem de ter o melhor julgamento, o que é especialmente perigoso no mundo das apostas esportivas.
Esse viés ocorre quando julgamos a probabilidade de um evento com base em quão semelhante ela é a um protótipo ou estereótipo que temos em mente, em vez de considerar a probabilidade real.
Um exemplo clássico:
Maria, de 31 anos, é solteira, confiante e brilhante. Ela se formou em filosofia e, como estudante, se preocupava muito com questões de igualdade e discriminação.
O que é mais provável?
a) Que ela trabalhe em um banco.
b) Que ela trabalhe em um banco e seja ativista em movimentos feministas.
A maioria das pessoas tende a escolher a opção B, pois as características de Maria parecem se encaixar perfeitamente no estereótipo de uma ativista. No entanto, a opção B é um subconjunto da opção A. É mais provável que ela trabalhe em um banco (opção A) do que trabalhe em um banco E seja ativista (opção B), pois a segunda opção adiciona uma condição que diminui a probabilidade. O viés da representatividade nos leva a ignorar a lógica estatística em favor de uma “história” que parece mais representativa.
Este viés se manifesta de várias formas no mundo das apostas
Apostar em um esporte que você ama: acreditamos que, por gostar ou entender muito de um esporte, seremos lucrativos nele. No entanto, entender do esporte não garante lucro. É preciso dominar a relação entre o conhecimento do esporte e o mercado de apostas. Se apenas o conhecimento bastasse, todos os comentaristas esportivos seriam milionários com apostas.
Resultados passados não são garantia de resultados futuros: observar um time ou jogador com uma sequência de vitórias (ou derrotas) e acreditar que isso vai continuar é um erro comum. O mercado de apostas muda constantemente e é muito dinâmico. Um método que funcionou há anos pode não ser eficaz hoje. Da mesma forma, um mês de grandes lucros não garante que os próximos serão iguais. É crucial se manter atualizado e ajustar a estratégia.
Apostar porque “todo mundo está ganhando”: ver outras pessoas lucrando em um esporte ou campeonato (como o que aconteceu durante a pandemia, com a liga de Belarus) leva muitos apostadores a acreditar que eles também terão sucesso. No entanto, o que funciona para uma pessoa não necessariamente funcionará para você. As estratégias, o conhecimento do mercado e a gestão de banca são individuais.
Como se proteger do viés da representatividade
Considere a probabilidade real: em vez de focar em um time favorito ou uma sequência de resultados, analise a probabilidade de cada evento acontecer. Precifique o jogo, ou seja, determine o preço justo para o resultado e compare-o com o que o mercado oferece. Apenas aposte se o valor for vantajoso.
Questione os seus próprios julgamentos: não aposte por “achismo”. Sempre que acreditar que um evento vai acontecer, pare e reflita. O que sustenta essa crença? Ela é baseada em dados, estatísticas e probabilidades, ou apenas na sua percepção ou nos resultados recentes?
Tomar decisões com base em dados e questionar constantemente as suas próprias percepções é a melhor maneira de se manter lucrativo no longo prazo.
Forte abraço!
Paulo Barreto
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