Na coluna de hoje, vamos abordar um dos temas mais “místicos” dentro das apostas: a precificação. No dicionário, precificação significa: “ação de precificar, de determinar o valor, o preço de; atribuição de valor a um produto ou serviço; avaliação: precificação de ações”. Muitas vezes, no ambiente das apostas esportivas, escutamos a recomendação de que temos que apostar com valor ou +EV (valor esperado positivo). Em muitos chats de apostadores, é comum lermos frases do tipo: “Poxa! Não bateu essa entrada, mas tinha muito valor” ou “O handicap asiático -0,25 a favor de tal time tem valor”. Esse tipo de ação nos leva ao segundo questionamento desta coluna:

Você precifica os jogos antes de apostar?

Não se pode afirmar que uma aposta tem valor ou não sem que o mercado seja precificado antes da entrada ser feita. E aqui me refiro a entradas no universo punter, sejam elas pré live ou ao vivo — sobre o universo do trading, não me atrevo a escrever, pois não tenho conhecimento teórico e nem experiência prática para tal.

Você já reparou que muita gente fala desse tema, mas quase ninguém mostra como realmente faz na prática? Já me perguntei isso muitas vezes ao longo da minha jornada. Confesso que desde muito tempo esse assunto é o que mais me intriga dentro das apostas. Li diversos artigos, vi muitos vídeos, comprei cursos e conversei com muita gente e duas coisas tenho como certezas:

1° – Todo apostador lucrativo no longo prazo precifica. Não há espaço para o achismo quando o objetivo é ganhar no longo prazo. Alguns desses apostadores utilizam sites e softwares especializados, outros utilizam planilhas automatizadas, e alguns fazem “a moda antiga”, tendo como ferramenta um caderno ou a própria cabeça.

2° – Cada um tem o seu jeito próprio de precificar. Não existe uma fórmula mágica, uma receita pronta de precificação. Por mais que você tente aprender com alguém a como fazer uma precificação, até mesmo utilizando parâmetros iguais, ainda assim haverá diferenças nas análises. O grande segredo está no “tempero” que cada um dá a própria receita.

Para mim, a precificação nas apostas esportivas é uma arte que transforma análises em números por meio do estudo e da matemática. Uma boa precificação é a chave para alavancar os seus resultados e, para isso, é preciso colocar energia e tempo nesse processo, pois ele requer atenção, monitoramento e eventuais correções. Sendo mais especifico ainda, precificar é encontrar as odds justas para um determinado mercado de acordo com os seus processos de análise.

Exemplo de precificação

Vou tomar o jogo entre Everton e Manchester United, pela Premier League, que aconteceu no dia 01/03/2020, como exemplo para exemplificar a precificação de dois mercados.

Já adianto que aqui, a minha análise será estritamente quantitativa, avaliando apenas os dados numéricos dos resultados finais dos últimos jogos dos times em questão. Sendo assim, deixo de lado nessas análises a parte qualitativa, que é cheia de subjetividades por motivos que comentarei mais adiante.

Mercado de probabilidades

Usei os últimos 5 jogos:

➡️ Dos confrontos diretos no geral;
➡️ Dos confrontos diretos com mando do Everton;
➡️ Do Everton em geral;
➡️ Do Manchester no geral;
➡️ Do Everton em casa na Premier League;
➡️ Do Manchester fora na Premier League.

Atribuindo o mesmo peso a todos jogos recentes, o resultado da precificação do mercado 1×2 foi:

Everton com 33,3% de chances de vencer;

Empate com 26,7% de probabilidade;

Manchester United com 40% de chance de vitória.

Para transformar essas probabilidades em odds, podemos usar a fórmula:

100 ÷ pela probabilidade

Assim, temos as seguintes odds como justas com base na nossa análise prévia:

Vitória do Everton – @3,00;

Empate – @3,75;

Vitória do Manchester – @2,50.

Acima, vemos o print de uma casa de apostas mostrando como estavam as cotações no momento que a análise do jogo entre Everton e Manchester United foi feita. Note que as odds da vitória do Everton, e também do empate, estão menores do que as odds da precificação feita. Isso significa que apostar nesses mercados não tem valor. Por outro lado, a plataforma oferecia uma odd de @2,92 para a vitória do Manchester. Comparando essa odd do United com a precificação feita anteriormente, são 42 tics a mais. Sendo assim, essa seria uma aposta com +EV.

Fórmulas

Já que estamos abordando cálculos, preciso compartilhar também que existe uma fórmula para se calcular o +EV em valores percentuais.

Alguns apostadores usam esse cálculo como base para decidir o tamanho da stake que vai inserir no mercado.

A fórmula é:

Usando essa fórmula dentro do nosso jogo exemplo temos:

Mercado de gols

Neste mesmo jogo, vamos analisar o mercado de gols e simular uma precificação.

Aqui, para precificar, usei os mesmos critérios anteriores para dar um peso de 50% a minha análise e os outros 50% de peso foi dado ao histórico das equipes durante o campeonato inteiro.

Na primeira parte da avaliação do jogo, utilizando um espaço amostral de 30 jogos, identifiquei que em 13 deles a linha do over 2,5 gols foi superada (43,3% de ocorrência). E tivemos 17 ocorrências do under 2,5 (56,7%).

Na segunda parte da minha avaliação, consultei um banco de dados (site de estatísticas) e coletei os seguintes números em relação a ocorrência do over 2,5 nos últimos jogos de Everton e Manchester:

➡️ Todos os jogos do Everton: 52%

➡️ Todos os jogos do Manchester: 41%

➡️ Jogos do Everton em casa: 38%

➡️ Jogos do Manchester fora de casa 23%

Com isso, fiz uma média aritmética das porcentagens coletadas no banco de dados e obtive o resultado de 38,5%.

Como atribuí o mesmo peso para as duas etapas da análise, então a probabilidade da linha do over 2,5 ser superada neste jogo é:

Isso nos dá uma odd justa de @2,44.

Usando o conceito de probabilidade complementar, também identificamos que a chance de ocorrer o under 2,5 é de 59,1%, ou seja, uma odd justa de @1,69.

Abaixo, o print nos mostra que o mercado de under 2,5 para esse jogo nos oferecia 17 tics de vantagem. E usando a fórmula para calcular o percentual de +EV, isso significa 10,06%.

Aplicabilidade

Com todos esses insigths, você deve estar se perguntando: é exatamente assim que você faz as suas análises, Paulo?

E hoje a minha resposta é não. Porém, no passado, já foi assim.

Outra pergunta que talvez você esteja se fazendo é: se você já não faz mais assim, qual é o motivo de nos mostrar isso?

São dois os motivos: primeiro, eu acho bem mais didático esses exemplos que não usam subjetividade. E segundo, a criação de um método vem com o tempo, fazendo ajustes aqui e ali.

Portanto, para quem está começando a sua jornada nas apostas, tome isso como um ponto de partida e aos poucos faça os seus próprios ajustes, pois são eles que vão te levar muito mais longe.

Hoje, para fazer as minhas fair lines, eu uso power rankings orgânicos, que levam em consideração vários critérios com pesos diferentes. Alguns deles, por exemplo, são: potencial técnico do elenco, entendimento tático do time, desempenho nos últimos jogos (esse é o que mais pesa para mim), forma dos últimos jogos (no geral e casa/fora), confrontos diretos recentes, motivação, desfalques, entre outros.

A sua análise, no entanto, pode ser tão mais simples ou tão mais completa quanto essa. Nesse ponto, não existe certo ou errado. O importante é que o retorno que você tenha seja proporcional a energia que você gasta.

Obrigado a todos que leram.

Fico no aguardo do feedback de vocês.

Paulo Barreto

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