A bola de beisebol está morta - Gustavo Zambrano
Casa do Apostador Carregando...
qua 09 jul/25

A bola de beisebol está morta


“Deus está morto”, escreveu Nietzsche. Hoje, talvez o mesmo possa ser dito da bola de beisebol.

Um dos desafios de se apostar na MLB (liga de beisebol norte-americana), na era do odioso comissário Rob Manfred — que ainda pagará por seus pecados, nesta vida ou na próxima — é identificar a dinâmica da temporada, já que a liga altera as bolas ano após ano, criando enormes distorções nos números. A fabricação das bolas é um processo manual, então pequenas alterações são esperadas, mas desde a fatídica temporada de 2019, quando as então bolas turbinadas geraram a maior pontuação média da história da MLB, as flutuações na pontuação se tornaram frequentes de uma temporada para outra, trazendo enormes desafios para os apostadores.

Histórico

Abaixo estão as médias de corridas por jogo de cada temporada desde 2019:

2019: 9,66
2020: 9,30
2021: 9,06
2022: 8,56
2023: 9,24
2024: 8,78
2025: 8,74 (em andamento)

A variação na pontuação está intimamente ligada à taxa de home runs, especialmente à proporção de flyballs que se transformam em home runs (HR/FB):

2019: 15,3%
2020: 14,8%
2021: 13,6%
2022: 11,4%
2023: 12,7%
2024: 11,6%
2025: 11,3% (em andamento)

Impacto dos estádios

A atual taxa de home runs é a mais baixa dos últimos sete anos, ainda que a pontuação média seja apenas a segunda menor. Além disso, duas mudanças de estádio em relação a 2022 impactam os totais, com dois under parks dando lugar a ambientes de alta pontuação. Com a saída dos Athletics de Oakland, a franquia — que se mudará para Las Vegas — tem estado temporariamente em Sacramento, onde a alta temperatura e baixa umidade do ar criaram um ambiente de alta pontuação extrema na nova casa dos A’s, o Sutter Health Park, que tem registrado média de 10,0 corridas por jogo. Já os Tampa Bay Rays, que tiveram o Tropicana Field parcialmente destruído pelo furacão Milton, se mudaram temporariamente para o George M. Steinbrenner Field, um estádio com as mesmas dimensões do Yankee Stadium, com pontuação média superior à do Tropicana.

As adições dos dois estádios ajudaram a mascarar um pouco a queda na pontuação, mas como visto na tabela acima, tivemos a menor proporção de home runs por flyballs dos últimos sete anos.

Voz dos jogadores

Em 2019, quando a pontuação estourou, o arremessador Justin Verlander foi o primeiro jogador a denunciar a causa, afirmando que as costuras das bolas eram mais baixas do que o normal, o que, pela aerodinâmica, possibilitava que elas viajassem maiores distâncias quando atingidas. Nesta temporada, outro jogador veterano foi o primeiro a declarar publicamente que a bola parece diferente: Andrew McCutchen, rebatedor dos Pittsburgh Pirates — que, neste momento, possuem a segunda pior média de corridas por jogo da liga.

Ao contrário da bola de 2019, as deste ano possuem costuras mais altas, que geram maior resistência no ar, diminuindo o arrasto. A liga nega que tenha promovido mudanças intencionais, mas Manfred admite que o processo de fabricação das bolas gerou mudanças significativas em 2025. As alegações de McCutchen foram confirmadas pela Dr. Meredith Wills, que vem promovendo testes independentes com bolas da MLB a cada ano.

Jogador arremessa bola de beisebol

A maior controvérsia quanto às mudanças frequentes nas bolas ocorreu na temporada de 2022, que teve a menor pontuação média dos últimos anos. Naquele ano, Wills denunciou que a liga não estava utilizando apenas um tipo de bola, e sim três, significativamente diferentes entre si:

A bola morta — teoricamente a bola oficial da temporada de 2022, utilizada na maioria dos jogos e principal responsável pelas baixas pontuações.

A bola turbinada — a mesma da temporada de 2019, que curiosamente apareceu com mais frequência em jogos dos New York Yankees, que lideraram a liga em home runs, em um ano em que Aaron Judge buscava estabelecer um novo recorde. A bola turbinada também foi presença constante no Sunday Night Baseball, partida semanal com exibição nacional pela ESPN americana.

Bolas remanescentes do estoque da temporada encurtada de 2020 — que geravam uma pontuação híbrida.

Naquela temporada, muitos jogadores se manifestaram publicamente, incluindo o próprio Aaron Judge. As alegações gerais eram de que, em alguns jogos, a bola parecia viva; em outros, ela não saía do campo — independentemente da força e do ângulo da rebatida.

O episódio ficará marcado como um dos mais absurdos da história das grandes ligas esportivas americanas, fruto do caráter sombrio de um comissário criminoso que, aos poucos, está destruindo a tradição de um esporte centenário.

Influência nas apostas

Mas estamos em um site voltado para apostas esportivas — então, como isso afeta o apostador? A resposta deveria ser óbvia: sem consistência no elemento mais básico do esporte — a bola — tanto apostadores quanto oddmakers se veem em um cenário caótico. Modelos preditivos, alimentados por dados históricos e amplamente utilizados na formação das odds, simplesmente deixam de refletir a realidade em campo.

Bola de beisebol no chão

Curiosamente, a temporada de 2022 foi a minha pior como apostador profissional — e a de 2025, até agora, também tem sido frustrante. Isso após eu ter acumulado 90 unidades de lucro nas duas temporadas anteriores.

Unders estão batendo em uma taxa de 52,8% na temporada de 2025 até o momento. Isso, por si só, não seria um grande problema — variações acontecem. No entanto, a pontuação no beisebol costuma seguir uma lógica clara: ela é sazonal e amplamente afetada pelo clima. Dentro de uma temporada típica, a pontuação segue uma curva em sino: começa em baixa, atinge o pico entre junho e julho — nos meses mais quentes do verão americano — e volta a cair em agosto e setembro, à medida que as temperaturas esfriam.

A bola atual, no entanto, não parece ser tão afetada pelas condições climáticas, e julho — que deveria ser o mês de maior pontuação — curiosamente tem registrado média inferior à de junho. Isso tem sido mais perceptível em estádios de grande variação, como o Kauffman Stadium (Royals) e o Dodger Stadium (Dodgers), onde temperatura e umidade, historicamente, produziram grandes flutuações nas pontuações. Oddmakers — assim como o meu modelo de projeção — seguem ajustando as linhas com base nesses fatores, mas a pontuação não tem acompanhado as mudanças climáticas, com unders prevalecendo em quaisquer circunstâncias.

Em 2025, se um apostador tivesse escolhido o under cegamente em cada um dos 1.301 jogos disputados até o momento, seu lucro seria de +38,6 unidades, com um ROI de 2,9%.

A mudança na bola não afeta apenas o número de corridas — ela distorce profundamente o valor de certos arquétipos de jogadores, alterando a eficiência relativa de diferentes estilos de jogo. Quando os home runs deixam de ser um fator dominante, arremessadores flyballers passam a ser menos penalizados e, em muitos casos, se tornam mais valiosos.

Eles ainda colhem sua principal vantagem — gerar mais eliminações em comparação a arremessadores que buscam eliminações por bolas rasteiras — mas agora sem o custo habitual de ceder home runs com mais frequência. Em um ambiente onde a bola não viaja, seus erros simplesmente não se transformam em corridas. Isso muda completamente a leitura de matchups e modelos de precificação.

Adapte-se

Então qual é a solução para o apostador? Obviamente, é se adaptar. Mas como adaptar-se a algo que muda todo ano sem aviso? A bola é um mistério anual — e entender a dinâmica de cada temporada leva tempo, estudo, experimentação e uma margem de erro inevitável. Sob o comando de Rob Manfred, o beisebol tem sido, na prática, um esporte diferente a cada ano, com novas regras, novos campos, novas bolas e, portanto, novos jogos dentro do jogo.

O apostador, assim como os jogadores, vê sua eficiência flutuar de acordo com o ambiente. Em 2023, com um perfil ofensivo mais previsível, produzi um ROI de 3,1% em mais de 2.300 apostas. Já em 2025, com um cenário distorcido por uma bola “morta” e ajustes imprevisíveis, tenho que ouvir críticas de um público que não faz a menor ideia dos desafios reais de se apostar em baisebal.

Muita gente que consome análises esportivas busca apenas um pretexto para confirmar as suas próprias convicções — ou para transferir a culpa por seus erros ao analista, sempre mais incapaz do que o apostador médio, que nada produz, mas muito reclama. No entanto, poucos estão dispostos a entender o contexto, a variância, ou o fato básico de que não existe consistência sem estabilidade no produto apostado. E estabilidade, no beisebol de hoje, é uma ideia morta — como na célebre frase de Nietzsche.

Gustavo Zambrano

Referências da coluna:

https://x.com/bbl_astrophyscs
https://www.fangraphs.com
https://www.baseball-reference.com/
https://www.nytimes.com/athletic/6422877/2025/06/13/mlb-baseball-fly-ball-distance-drag/
https://atlbravescountry.com/mlb-doubles-down-on-controversial-dead-balls-for-2025/

Leia também:

Fernando Haddad volta a defender taxação sobre casas de apostas

Donald Trump sanciona lei e muda tributação do setor de apostas nos EUA

Panorama da Copa – Semifinais

Dados e projeções sobre as semifinais da Copa do Mundo de Clubes

Al-Ahli, da Arábia Saudita, negocia contratação de Messi

Botafogo acerta a contratação do técnico Davide Ancelotti, filho de Carlo Ancelotti

A conversão de diferentes formatos de odds em probabilidade

Bancada evangélica já trabalha contra PL que legaliza cassinos e bingos

Deixe seu comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *