Xabi Alonso no Real Madrid: um desafio maior do que parece
A confirmação de Xabi Alonso como novo técnico do Real Madrid marca uma das mudanças mais simbólicas e potencialmente turbulentas da próxima temporada europeia. O ex-volante, que brilhou com a camisa merengue entre 2009 e 2014, retorna agora ao clube em uma função radicalmente diferente: comandar a equipe mais vitoriosa da história da Liga dos Campeões, sucedendo ninguém menos que Carlo Ancelotti, um dos maiores treinadores da era moderna. Embora a escolha soe natural e até mesmo romântica, não será um caminho livre de pedras. Na verdade, o desafio que Xabi enfrentará pode ser ainda maior do que o torcedor imagina.
A mudança no comando
Trocar Ancelotti por Xabi Alonso representa mais do que uma mera troca de nomes no banco de reservas. Trata-se de uma mudança de paradigma. Ancelotti é a síntese da gestão de egos com estabilidade tática, alguém que soube tirar o máximo de um elenco estrelado sem precisar de rupturas bruscas. Seu jeito de ver futebol, embora menos inovador, privilegia a adaptabilidade e o equilíbrio.
Já Xabi Alonso, conforme demonstrou no Bayer Leverkusen, aposta em um jogo posicional mais rígido, com forte organização coletiva e uma proposta ofensiva que exige comprometimento e sincronia. Na Bundesliga, essa fórmula se revelou avassaladora: o Leverkusen encerrou a hegemonia do Bayern de Munique, conquistando a liga de forma invicta e encantando o continente.
Porém, o Real Madrid é um terreno completamente diferente. Implementar novas ideias em um grupo acostumado à gestão mais flexível de Ancelotti pode ser mais chocante do que parece. A mudança de comando não será apenas um ajuste de estratégias; pode ser interpretada como uma revolução — e nem sempre o vestiário mais estrelado do mundo reage bem a revoluções.
Um vestiário com estrelas
Se no Leverkusen Xabi Alonso pôde moldar o elenco de acordo com as suas convicções, no Real Madrid ele encontrará um vestiário já consolidado e recheado de figuras imponentes. Mbappé, Vini Jr. e Bellingham são três dos jogadores mais midiáticos e determinantes do planeta atualmente. São estrelas habituadas ao protagonismo, cada uma com estilo e personalidade própria.
Por mais respeitado que Xabi Alonso seja, sua autoridade será, inevitavelmente, colocada à prova. Afinal, em Madrid, técnico nenhum está acima dos galácticos… exceto, logicamente, Carlo Ancelotti. Não à toa, nomes como José Mourinho e Luxemburgo sucumbiram ao peso do vestiário merengue, apesar de carreiras consolidadas.
Além disso, há uma diferença substancial entre o respeito que Xabi gozava na Alemanha e o ambiente espanhol, especialmente em Madrid, onde a imprensa é implacável e a cobrança por resultados é constante. A gestão de egos será tão importante quanto — ou talvez até mais — do que a aplicação de sua filosofia tática.
A inexperiência que pode pesar
É verdade que Xabi Alonso iniciou sua trajetória como técnico de maneira meteórica. Seu trabalho no Bayer Leverkusen não foi apenas eficiente, mas revolucionário. Em pouco tempo, transformou um time tradicionalmente coadjuvante na Bundesliga em protagonista absoluto, com um estilo vistoso, organizado e extremamente competitivo.
A crítica esportiva alemã foi unânime ao enaltecer sua capacidade de leitura tática e evolução rápida, comparando-o, inclusive, a técnicos como Pep Guardiola, sob quem Xabi foi comandado no Bayern. Contudo, não podemos nos esquecer de que Xabi ainda é um treinador em formação. Sua carreira como técnico profissional soma pouco mais de dois anos, sem passagens por desafios comparáveis ao que encontrará no Real Madrid.
O Bernabéu pode não ser um bom lugar para aprendizes. A exigência de vitórias imediatas, o peso histórico do clube e o ambiente altamente politizado podem tornar a inexperiência um fator decisivo. Para se dar bem como técnico no maior clube do planeta, Xabi terá que reviver a história de Zidane, outro técnico jovem que assumiu o Madrid e, por um curto período de tempo, fez as coisas funcionarem. Certamente o espanhol tem muito a aprender com Zinedine. A curva de aprendizado que Xabi teve no Leverkusen, por exemplo, dificilmente será tolerada no Real.
A comparação inevitável e cruel com Ancelotti
Assumir o lugar de Carlo Ancelotti é, por si só, uma missão inglória. O técnico italiano sai do Real Madrid deixando uma marca histórica: títulos importantes, domínio de vestiário e uma relação quase paternal com os principais jogadores. Sua figura serena e pragmática proporcionou estabilidade ao clube em um momento de transição geracional.
Xabi Alonso, mesmo com toda sua bagagem como jogador, terá de lidar com a sombra de Ancelotti, especialmente se os resultados não aparecerem de forma imediata. A comparação será inevitável — e cruel. Enquanto Ancelotti é associado à tranquilidade e às conquistas, Xabi será visto como o técnico das mudanças, das exigências e, possivelmente, dos tropeços. O Real vem de uma temporada sem títulos e, obviamente, isso deve pesar na conta de avaliação do treinador novato.
O peso da camisa: Real Madrid não é Leverkusen
No Bayer Leverkusen, Xabi Alonso operou com pressão, claro, mas de uma magnitude muito inferior ao que encontrará no Real Madrid. A expectativa no clube alemão era de crescimento e afirmação; em Madrid, a única expectativa possível é a vitória. Não há espaço para temporadas de adaptação, nem para projetos de longo prazo que não entreguem títulos de maneira rápida.
Na Alemanha, o reconhecimento do trabalho de Xabi foi acompanhado por um certo grau de indulgência natural com quem está começando. No Real Madrid, qualquer sinal de fraqueza ou instabilidade pode ser suficiente para gerar uma crise.
Além disso, o futebol espanhol e o ambiente merengue são muito mais voláteis e midiáticos. A pressão da imprensa, a exigência da torcida e a política interna do clube criarão um cenário de tensão permanente, que exigirá muito mais do que competência tática: será necessário jogo de cintura, resiliência e capacidade de liderança fora das quatro linhas.
Uma aposta audaciosa de Florentino Pérez
Apesar de todos os riscos, é preciso reconhecer: a escolha de Xabi Alonso é, também, uma aposta corajosa e visionária por parte de Florentino Pérez. O presidente do Real Madrid pode ter enxergado em Xabi algo que poucos técnicos oferecem neste momento: uma combinação rara de identidade com o clube, juventude, mentalidade moderna e potencial de liderança.
Sim, Xabi Alonso é inexperiente em clubes de primeira prateleira, mas também é um técnico promissor, que demonstrou em pouco tempo uma capacidade de transformar contextos e implementar uma filosofia clara. Sua trajetória meteórica no Bayer Leverkusen, coroada por títulos e um futebol altamente elogiado pela crítica esportiva alemã, não é um acaso — é um indício de que, mesmo enfrentando obstáculos naturais, ele pode fazer as coisas funcionarem.
A decisão de Florentino pode ser, portanto, um acerto que não viria com qualquer outro nome. Apostar em treinadores consagrados como Klopp, Tuchel ou Mourinho seria o caminho mais seguro, mas talvez não o mais transformador. Xabi representa a possibilidade de uma nova era no Real Madrid, assim como Guardiola no Barcelona, Zidane no próprio Real, Mourinho no início de sua carreira internacional e Ancelotti na construção de diversas hegemonias.
Estamos, quem sabe, presenciando o nascimento de algo tão impactante quanto essas outras grandes histórias recentes do futebol. O risco é alto, mas o potencial é ainda maior.
A expectativa como risco: da esperança à frustração
Xabi Alonso chega ao Real Madrid bem quisto e amplamente avaliado de forma positiva pela imprensa europeia. Sua trajetória como jogador no clube e seu recente sucesso como técnico alimentam uma expectativa gigantesca sobre o que ele pode realizar à frente do time.
Entretanto, justamente por ser tão bem visto, qualquer frustração pode se transformar rapidamente em combustível para uma crise. A torcida madridista não tolera períodos de instabilidade, especialmente após anos sob a gestão sólida de Ancelotti. Se as ideias de Xabi demorarem a ser assimiladas ou se os resultados iniciais forem aquém do esperado, a decepção poderá ser proporcional ao entusiasmo que acompanha sua chegada.
Como bem destacam analistas da imprensa alemã, o sucesso de Xabi Alonso no Leverkusen foi, em parte, fruto de um ambiente propício ao desenvolvimento e à paciência. No Real Madrid, essas condições simplesmente não existem.
Definição de carreira
Sem dúvidas, como mostramos, a chegada de Xabi Alonso ao Real Madrid é carregada de simbolismo e expectativa. O ex-jogador retorna ao clube onde viveu grandes momentos, agora como comandante técnico, e com a missão de manter o Real Madrid no topo do futebol mundial. A aposta do clube é ousada, mas muito interessante.
Contudo, os obstáculos são consideráveis: a transição tática, a gestão de um vestiário repleto de estrelas, a inexperiência relativa e a necessidade de lidar com a pressão mais intensa do futebol de clubes. Se conseguir superar esses desafios, Xabi poderá consolidar-se rapidamente como um dos maiores técnicos de sua geração. Caso contrário, corre o risco de queimar etapas e ver sua ascensão meteórica ser abruptamente interrompida.
Para nós, apostadores esportivos e consumidores de futebol, fica o alerta: o Real Madrid de Xabi Alonso será, provavelmente, um time de extremos — capaz de encantamentos súbitos, mas também vulnerável às turbulências típicas de mudanças tão profundas. É preciso ficar esperto e ter o discernimento necessário para não supervalorizar ou subvalorizar um trabalho que será muito difícil. O Super Mundial de Clubes é o primeiro teste de fogo da nova fase madrilenha.
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