Manipulação no Brasileirão Feminino
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Tentativa de manipulação no Brasileirão Feminino reacende debate sobre apostas no Brasil
qui 23 jun/22

Tentativa de manipulação no Brasileirão Feminino reacende debate sobre apostas no Brasil


No início desta semana, o presidente do Santos Futebol Clube, Andres Rueda, concedeu uma entrevista coletiva para denunciar um ex-funcionário do clube de tentativa de manipulação de resultados em um jogo válido pelo Brasileirão Feminino. Durante a coletiva, Andres Rueda acusa um ex-preparador de goleiros do clube (Fabricio de Paula) de ter abordado uma jogadora do Red Bull Bragantino para uma tentativa de suborno. O objetivo do funcionário, segundo o Santos, seria obter benefícios em apostas esportivas.

O presidente do Santos fez questão de vir a público revelar a situação e reafirmar que o clube é vítima da história. “Nós tivemos um fato lamentável comprovadamente nesse fim de semana, que talvez seja a ponta do iceberg do que está acontecendo no nosso futebol. Um funcionário do nosso clube, do futebol feminino, utilizando-se de um intermediário do Bragantino, tentou subornar uma jogadora para arranjar um resultado elástico logo no primeiro tempo do jogo para efeito de apostas”, revelou Rueda.

Detalhes do caso

Em nota, o Santos deu mais detalhes do que teria acontecido em relação ao jogo e frisou que antes da partida do último domingo, 19 de junho, que valeu pela 13ª rodada do Brasileiro Feminino, uma atleta do Bragantino teria sido contactada para forçar um placar elástico a favor do Peixe. De acordo com o Santos, a jogadora rejeitou a oferta e procurou o diretor executivo do Red Bull Bragantino, Thiago Scuro, para contar o que havia acontecido. O dirigente do Bragantino foi o responsável por informar Andres Rueda sobre a suposta tentativa de manipulação.

A jogadora prontamente recusou a proposta, comunicou os seus superiores. Eu tenho uma relação muito forte com o Thiago, eles entraram em contato comigo apresentando inclusive provas materiais, prints de conversas. Tão logo isso chegou ao nosso conhecimento, junto ao presidente do Bragantino, a gente tomou algumas providências. Demissão por justa causa de todos os envolvidos, oficiamos imediatamente a CBF colocando as provas e os prints”, contou o presidente do Santos durante a coletiva.

Conforme informado na nota oficial do Santos, Rueda realizou a denúncia do caso na Confederação Brasileira de Futebol (CBF), registrou boletim de ocorrência (BO) e desligou o membro do departamento de futebol feminino do Peixe com participação no caso por justa causa. “Estamos preparando todo o material para encaminhar ao Ministério Público e não vamos ficar contentes enquanto não apurarmos, não só quem foi de onde veio isso, mas também até onde chega essa podridão”, concluiu Rueda.

Acusado se defende

De acordo com informações do GE.com, após as acusações, a defesa de Fabrício de Paula tentou explicar a situação. Segundo os defensores do ex-preparador de goleiros do Santos, Fabrício teria ido ao hotel em que a delegação do Red Bull Bragantino estava hospedada para conversar com um amigo que trabalha no clube. E que lá, durante a visita ao amigo, conheceu a atleta que, mais tarde, denunciaria a possível tentativa de suborno.

Ainda de acordo com as informações do GE.com, veículo que revelou a identidade de Fabrício de Paula após as acusações do presidente do Santos, Andres Rueda, o ex-funcionário do Peixe teria conversado com a jogadora do Red Bull Bragantino também por mensagens virtuais. Fabricio alega que seus contatos foram mal interpretados pela jogadora do Red Bull Bragantino.

Em nota, a defesa de Fabrício alega que tudo será esclarecido em juízo. “A defesa do profissional ressalta que quando da apresentação das suas conversas via aplicativo de mensagem, em juízo, ficará comprovado que nada de anormal, existiu. E que ainda a mensagem foi mal interpretada, já que a atleta não entendeu que a intenção era a contratar como profissional”, relata a nota divulgada pelos representantes do ex-funcionário santista.

Mais pessoas envolvidas?

Durante a coletiva em que expôs a situação envolvendo a suspeita de tentativa de manipulação, Rueda considerou a possibilidade de outras pessoas estarem envolvidas no caso. O presidente santista desconfia, inclusive, da equipe de arbitragem escalada no jogo. De acordo com o presidente do Santos, um funcionário do clube teria entregue um envelope para a quarta árbitra da partida (contra o Red Bull Bragantino) antes da bola rolar. O dirigente não soube informar o que haveria dentro do envelope.

Tem uma passagem, inclusive do início do jogo, um negócio no mínimo esquisito, um funcionário dando supostamente um envelope para a quarta árbitra (Adeli Mara Monteiro) na frente da juíza (Marianna Nanni Batalha), que tem de ser investigado. Avisamos a CBF. Abrimos um BO para apuração criminal dos fatos e estamos preparando todo um material para encaminhar para o Ministério Público. Não ficaremos contentes enquanto não apurarmos toda a podridão”, revelou o presidente do Santos.

Sobre esse gesto de contato com a equipe de arbitragem antes do confronto entre Santos e Red Bull Bragantino, a defesa de Fabrício de Paula também justificou a ação do seu cliente. “De fato, foi entregue (o envelope), mas era uma simples capa de chuva; portanto, não se sabe de onde foi tirada essa absurda associação ao lamentável episódio de acusação de suborno. A defesa ressalta ainda que, na própria súmula da partida (documento oficial da CBF), não há relato de nenhuma ocorrência em especial.”, explicaram os defensores do ex-preparador de goleiros do Peixe.

Debate sobre apostas nas redes sociais

Quem acompanhou um pouco da repercussão desse caso envolvendo uma possível tentativa de manipulação no jogo entre Santos e Red Bull Bragantino, pelo Brasileirão Feminino, percebeu que as acusações do presidente do Santos fizeram reacender o polêmico debate sobre a expansão das apostas esportivas no Brasil. Por se tratar de um jogo envolvendo grandes clubes do futebol brasileiro, o tema ganhou muito destaque entre jornalistas e torcedores.

O principal argumento do debate é a grande dominação dos espaços publicitários envolvendo clubes e competições de futebol no Brasil por parte das casas de apostas. A opinião popular, que desconhece coisas básicas do funcionamento do mercado das apostas esportivas, têm condenado a associação dos clubes e das competições de futebol com marcas de apostas esportivas, principalmente porque ainda carregam uma memória muito forte de casos de manipulação acontecidos no passado.

Entre opiniões e desserviços, existe ainda um ambiente de muita desinformação quando a temática é a inserção das apostas esportivas no futebol brasileiro. Como alertei, a memória do torcedor e dos jornalistas, que deveriam estudar um pouco mais sobre esse tema antes de opinar, ainda carrega sequelas daquele que foi um dos casos mais conhecidos de manipulação de resultados no Brasil: a Máfia do Apito, liderada pelo ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho, em 2005.

O ponto é que, no imaginário popular, as grandes vilãs da história são as casas de apostas, o que na verdade é uma grande bobagem. Se tem alguém mais interessado em um jogo limpo e sem manipulação que uma casa de apostas, eu desconheço. As casas, que estão tomando porrada por causa de atitudes criminosas de grupos ou pessoas, precisam reagir e se organizar para conscientizar a população de que elas não são as vilãs da situação.

Mais do que isso, os próprios clubes e os campeonatos que são patrocinados por casas de apostas precisam vir a público esclarecer a situação. Não é correto deixar as pessoas especulando inverdades por aí. É prejudicial para todos os envolvidos e também para o futuro do mercado no país. Quando casos assim acontecem, que envolvem grandes clubes do futebol brasileiro, não basta negar participação. É preciso agir, educar, conscientizar e deixar claro para a opinião pública que quem tenta manipular resultados são criminosos, são pessoas, e não as casas de apostas.

Se quiserem realmente seguir tendo um futuro no Brasil, e digo isso com ou sem regulamentação, as empresas que trabalham com casas de apostas, os clubes, os jogadores e as competições que são patrocinadas por essas empresas vão precisar agir em conjunto para conscientizar a opinião pública sobre as coisas erradas que vem acontecendo no futebol brasileiro. Se deixarem por isso mesmo, vai ser muito difícil recuperar a imagem das apostas esportivas por aqui. O estrago já começou a ser feito e ele já deu indícios de ser gradual e progressivo.

 

Escrito por Sérgio Ricardo Jr

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