
STJD pune sete envolvidos em esquema de manipulação de resultados na Série D
O Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) determinou punições severas para sete envolvidos em um esquema de manipulação de resultados na Série D do Campeonato Brasileiro de 2024. A decisão veio após investigações apontarem irregularidades na partida entre Inter de Limeira e Clube Atlético Patrocinense (MG), disputada em junho do ano passado.
A suspeita surgiu após o jogo, vencido pela equipe paulista por 3 a 0, com todos os gols marcados ainda no primeiro tempo, incluindo um gol contra. O alerta foi dado pela empresa Sportradar, especializada no monitoramento de apostas esportivas, que identificou movimentações anormais no mercado antes do confronto. Com base nesse relatório, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) acionou a Polícia Federal (PF), que deu início à Operação Jogo Limpo.
Durante as investigações, foram cumpridos 11 mandados de busca e apreensão em diversas cidades, incluindo Patrocínio (MG), São José do Rio Preto (SP), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Tanguá (RJ) e Nova Friburgo (RJ). Os agentes descobriram que um grupo de apostadores, com o apoio de integrantes e ex-integrantes do Patrocinense, manipulava resultados para obter lucros indevidos.
Punições aplicadas pelo STJD
Após análise do caso, a Quarta Comissão Disciplinar do STJD aplicou penalidades severas aos envolvidos. Dois deles foram banidos do futebol:
Anderson Ibrahin Rocha (dirigente) – Eliminado do futebol e multado em R$ 50 mil
por atuar como um dos responsáveis pelo recrutamento de jogadores para o esquema.
Marcos Vinícius da Conceição (investidor) – Também eliminado e multado em R$ 25 mil pelo seu papel no aliciamento de atletas.
Outros cinco receberam suspensões e multas:
Richard Bala (jogador) – Suspenso por 720 dias e multado em R$ 25 mil por envolvimento direto na manipulação.
Felipe Gama (jogador) – Suspenso por 549 dias e multado em R$ 20 mil por participação no esquema.
Dener (jogador) – Multado em R$ 2,5 mil por ter conhecimento do crime e não denunciá-lo.
Estevam Soares (técnico) – Multado em R$ 20 mil por omissão diante da manipulação.
Rodolfo “Dodô” (auxiliar técnico) – Multado em R$ 10 mil pela mesma razão.
O relator do processo, Gustavo Favero Vaughn, destacou a gravidade do caso, mesmo sendo a primeira vez que os envolvidos enfrentavam a Justiça Desportiva. Ele também solicitou que as sanções fossem reconhecidas internacionalmente, seguindo as diretrizes do Código Disciplinar da FIFA – pedido aceito por unanimidade pela Comissão.
Desdobramentos e medidas preventivas
O escândalo teve grande repercussão no futebol brasileiro, reforçando a necessidade de medidas rígidas contra manipulação de resultados. A CBF, por meio de sua Unidade de Integridade, acompanhou o caso desde o início e intensificou a parceria com a Polícia Federal para prevenir novas ocorrências.
O Clube Atlético Patrocinense alegou ser vítima da fraude, afirmando que a manipulação foi orquestrada pela empresa AIR GOLDEN, responsável pela gestão esportiva da equipe à época. O contrato com a empresa foi imediatamente rescindido após a descoberta do esquema, e o clube colaborou com as autoridades, participando de audiências no STJD e no Senado Federal.
Manchados
É impressionante como alguns casos de manipulação de resultados beiram o absurdo. Esse episódio envolvendo o Patrocinense na Série D de 2024 não foi apenas mais um esquema obscuro, foi um escândalo praticamente escancarado. Gols suspeitos, movimentações atípicas no mercado de apostas antes do jogo e até um gol contra… Era praticamente um convite para ser descoberto.
Independentemente do tempo de suspensão ou das multas aplicadas, a verdade é que os envolvidos dificilmente vão conseguir reconstruir suas carreiras. A mancha de um escândalo como esse não se apaga, e a confiança que foi quebrada dificilmente será recuperada. Se há algo positivo nisso tudo, é a certeza de que os mecanismos de fiscalização estão cada vez mais atentos – e que, para quem insiste nesse tipo de caminho, as consequências chegam.