CBF exige exibição de patrocinador e causa desconforto na Série B
No início deste mês, a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) causou um enorme desconforto nos clubes que fazem parte da Série B do Campeonato Brasileiro. O problema foi causado por uma exigência da entidade, que solicitou aos clubes a exibição de um patch do campeonato com a logomarca da casa de apostas Betano, patrocinadora oficial da competição. A medida, que causou apreensão e desconforto nos clubes, precisou ser discutida em uma reunião convocada às pressas pelos representantes dos clubes.
O receio das equipes é que a exposição da Betano nos uniformes se converta na quebra dos contratos de exclusividade de patrocínio com outras empresas do segmento, consideradas atualmente como as principais financiadoras dos clubes de futebol da segunda divisão nacional. Todos os 20 clubes da Série B tem ou já tiveram algum acordo de patrocínio com casas de apostas na temporada, o que motiva a apreensão e o desconforto com a ação impositiva da CBF.
Solicitação via ofício
De acordo com informações divulgadas pelo jornalista Rodrigo Capelo no site do GE, a CBF informou aos dirigentes da Série B, por meio de um ofício enviado no início do mês, que todos os clubes que disputam o torneio deveriam aplicar em seus uniformes um patch alusivo ao campeonato. O artigo carrega a marca da Betano, patrocinadora da competição. Neste informativo, a CBF teria alegado que o objetivo da exibição do patch seria padronizar a identidade visual do campeonato. O ofício enviado aos dirigentes foi assinado pelo diretor de competições da entidade, Julio Avellar, e pela gerente jurídica da CBF, Regina Sampaio.
Diante disso, a notificação caiu como uma bomba nos clubes, visto que todos os contratos de patrocínio das equipes com empresas de apostas têm cláusulas de exclusividade, algo tido como de praxe pelo mercado para evitar a presença de concorrentes no mesmo uniforme. Essas cláusulas, no entanto, teriam de ser renegociadas ou simplesmente quebradas com a exigência da CBF em exibir um patch do Brasileirão Série B que carrega junto consigo a logomarca da Betano.
Ainda de acordo com informações divulgadas pelo jornalista Rodrigo Capelo no site do GE, o assunto foi pauta de uma reunião entres as três partes diretamente envolvidas na polêmica: os clubes, a CBF e a Brax, empresa que comprou os direitos comerciais da Série B e intermedeia as negociações envolvendo a segunda divisão nacional. Até este presente momento, no qual escrevemos este artigo, nenhuma decisão definitiva sobre a exibição do patch foi tomada, e todas as partes seguem negociando a melhor forma de contornar a situação.
Pressão dos dirigentes
A reunião entre as partes foi uma solicitação dos dirigentes dos clubes, que procuraram a confederação para reverter a situação. De acordo com o GE, que divulgou algumas partes das conversas entre clubes e CBF, Mário Marroquim, presidente do CRB, foi um dos cartolas a procurar Regina Sampaio, gerente jurídica da CBF. Em resposta ao presidente do clube alagoano, Regina teria afirmado que será necessário dissociar os patrocínios de uniformes da exibição de um patch do campeonato.
“A Série B já tinha title sponsor (patch) com uma empresa de bet, que era a Sportingbet. Substituímos, por uma questão de ruptura antecipada, pela Betano, que veio compor as receitas que vão integrar essa cota anual da Série B”, disse a gerente jurídica da CBF em um áudio enviado para Marroquim. “A CBF não quer causar qualquer conflito entre patrocínio de uniforme e title sponsor. São propriedades absolutamente distintas, comercializadas pela própria CBF de forma distinta. Nós temos contratos de publicidade estática e contrato de title sponsor. O patch simplesmente reproduz o nome da competição e não quer, em absoluto, prejudicar os clubes”, completou Regina em sua resposta ao presidente do CRB.
A exigência da CBF tem feito os clubes procurarem os seus patrocinadores para avisá-los sobre a situação e debater causas e consequências do problema. “Há a necessidade de se respeitar os contratos e estabelecer diálogo para resolver eventuais conflitos”, afirmou Júlio Heerdt, presidente do Avaí. Adson Batista, presidente do Atlético-GO, acredita na resolução do problema. “Há um conflito, porque todos os clubes têm contratos assinados com empresas de apostas esportivas. Como tem o nome Betano, pode dar conflito de interesses, então a gente está avaliando para tomar uma decisão em conjunto. O jurídico da CBF, através da doutora Regina, tem nos tratado de maneira muito saudável. Acredito que vamos ter uma solução amigável”, afirmou Adson.
De acordo com informações apuradas pelo GE, as casas de apostas estão desconfortáveis com a exigência.O site revelou que a posição das empresas envolvidas na polêmica é consensual e, embora nenhuma pretenda se manifestar publicamente, a fim de evitar qualquer tipo de desgaste nas relações comerciais com a CBF, a iniciativa do patch causou desconforto. O maior desejo das marcas que patrocinam os clubes da Série B é chegar em um consenso com clubes e a própria CBF para barrar a aplicação do patch nos uniformes das equipes. “Nós entramos em contato com os clubes que patrocinamos e fomos muito honestos: se isto ocorrer, nós vamos buscar os meios legais para romper o contrato e quiçá exigir a multa pela quebra da exclusividade”, revelou o diretor de uma das casas de apostas patrocinadoras de clubes da Série B em contato com o site GE.
Manda e desmanda
Esse episódio envolvendo a exigência da exibição de um patch de patrocinador da CBF nas camisas dos clubes é apenas mais um dos muitos casos de mando e desmando da confederação diante dos nossos olhos. Por letargia dos clubes, que estão mais preocupados com a desgraça do rival do que com as suas próprias pautas, a CBF segue sendo realmente a “dona da porra toda” por aqui, com o perdão da palavra, e deve permanecer nesta confortável posição por muitos e muitos anos.
Pensando como dirigente de um clube, eu também ficaria extremamente desconfortável ao receber um ofício exigindo que eu exiba, de graça, um patrocinador da CBF no meu uniforme. E o pior, um patrocinador concorrente ao meu, que me paga caro para estar no dia a dia do meu clube. E se eu fosse um diretor de casa de apostas, tal qual a fonte ouvida pela reportagem do GE, também estaria pronto para procurar as vias legais e romper o contrato de patrocínio caso ele fosse quebrado pelas equipes. Em pleno 2023, ninguém está mais disposto a fazer papel de otário.
Sinceramente, o caso é realmente delicado e exige muito diálogo entre todas as partes envolvidas. O tom de conciliação adotado por alguns diferentes clubes da Série B me fazem crer que não vai ser tão difícil chegar em um acordo sobre o tema com a CBF, nem que seja a alteração do patch ou até mesmo o engavetamento da ideia. No entanto, se essa ideia prosseguir, não vejo como tão simples assim renegociar os contratos de patrocínios com as casas de apostas, que obviamente vão querer manter os seus direitos protegidos dentro dos acordos vigentes. Ninguém faz um contrato pensando em negociá-lo antes do final. Pode até acontecer, mas é raro pra caramba, principalmente neste caso, no qual não existe contrapartida alguma por parte das equipes aos seus parceiros, muito pelo contrário.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr