
Série A pressiona governo italiano a liberar patrocínios de apostas nos uniformes
A Série A, principal liga de futebol da Itália, está à frente das negociações para a revisão do Decreto Dignidade, legislação de 2018 que proíbe o patrocínio de casas de apostas no esporte do país. O tema ganhou força após a Comissão de Cultura do Senado da Itália aprovar, no dia 5 de março, uma resolução que incentiva a revisão das regras vigentes. Há anos, os clubes têm guerreado em queda de braço com os reguladores do país para conseguir essa liberação, que agora parece próxima.
A medida, no entanto, não implica na criação de uma nova lei, mas obriga a Câmara dos Deputados a avaliar os impactos da proibição, que está em vigor desde 2019. Para que qualquer mudança ocorra, o governo precisará estabelecer um novo decreto que poderá modificar ou revogar as restrições impostas pelo Decreto Dignidade, adotado pelo governo da Lega Nord e Movimento 5 Estrelas. As discussões sobre o tema serão lideradas pelo Vice-Ministro da Economia e Finanças, Maurizio Leo, e pelo Ministro do Esporte, Andrea Abodi.
A linha de frente que cuida do tema se reunirá com representantes da Série A, sob a liderança do recém-eleito presidente Ezio Simonelli, que terá como primeiro grande desafio no cargo buscar a reformulação da legislação sobre patrocínios. Desde que a proibição entrou em vigor, os clubes da Série A vêm criticando a medida, apontando que a falta de patrocínios de casas de apostas gera perdas estimadas em € 100 milhões por ano. Além disso, a liga italiana enfrenta dificuldades financeiras significativas, com um déficit acumulado de € 350 milhões na temporada 2023/2024.
Os dirigentes também defendem uma revisão do modelo econômico do campeonato, alegando que a combinação de salários elevados, endividamento crescente e pouco investimento na formação de novos talentos tornou o sistema insustentável. Diante desse cenário, o Ministro do Esporte, Andrea Abodi, propôs a criação de uma taxa de 1% sobre as apostas, com o objetivo de financiar melhorias na infraestrutura esportiva do país. O plano prevê investimentos na modernização dos estádios, fortalecimento do futebol feminino e desenvolvimento das categorias de base.
Embora a ideia de flexibilizar o Decreto Dignidade tenha apoio significativo na Câmara dos Deputados, há resistência de setores políticos e sociais. O Movimento 5 Estrelas e o Partido Democrático (PD) se manifestaram contra a mudança, enquanto associações católicas reforçaram sua oposição por meio da imprensa. Apesar do avanço nas discussões, ainda não há um prazo definido para a apresentação da primeira versão do Decreto de Patrocínios de Apostas, que deve trazer as novas diretrizes para a regulamentação do setor no esporte italiano.
Só perdem
A insistência da Itália em manter uma abordagem diferente do restante da Europa talvez ajude a explicar por que os clubes italianos têm encontrado tantas dificuldades nas competições continentais nos últimos anos. A proibição dos patrocínios de casas de apostas pode ter sido uma tentativa ousada de estabelecer um modelo próprio, mas, na prática, resultou em um enfraquecimento financeiro que limitou a competitividade dos times da Série A.
Enquanto ligas como a Premier League e Ligue 1 aproveitam os investimentos do setor de apostas para fortalecer seus clubes, a Itália optou por um caminho restritivo que só tornou a sua liga menos atrativa para investidores e jogadores. O resultado? Times com menos dinheiro, menor capacidade de montar elencos fortes e, consequentemente, dificuldades para competir em alto nível na Champions League e na Europa League.
Se a ideia era fazer do futebol italiano um ambiente mais “puro”, livre da influência das casas de apostas, o efeito acabou sendo o oposto: os clubes ficaram mais dependentes de soluções emergenciais para equilibrar as contas, enquanto suas receitas diminuíam. No fim das contas, a Série A se fechou para o continente e se tornou cada vez mais um campeonato local, sem a força necessária para rivalizar com os grandes centros do futebol europeu.
É claro que a proposta de revisão do Decreto Dignidade enfrentará resistência. O tema das apostas esportivas sempre gera debates acalorados, e setores políticos e sociais já demonstram oposição à medida. Mas, sinceramente, espero que essa proibição seja revogada. Não se trata apenas de uma questão econômica, mas da sobrevivência do futebol italiano em um cenário globalizado e cada vez mais competitivo. Se a Itália quiser voltar a ser protagonista no futebol europeu, precisa jogar o jogo como ele é disputado no resto do continente.