UOL relembra descaso dos clubes sobre regulamentação das apostas no passado
Os clubes do futebol brasileiro que hoje cobram participação no debate sobre a regulamentação das apostas esportivas no Brasil são os mesmos que, há quatro anos, ignoraram o debate sobre a regulamentação do segmento no país. Na época, segundo revelações do portal UOL, apenas o Vasco, que detinha um acordo com a casa de apostas Netbet, enviou representante aos eventos que debatiam a necessidade de estabelecer regras para o funcionamento da indústria no Brasil.
Recentemente, após ampla divulgação da intenção de regulamentar as apostas esportivas no Brasil por parte do Governo Federal, os clubes do futebol brasileiro, liderados pelas agremiações dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, publicaram uma nota conjunta para solicitar participação no processo de regulamentação das apostas esportivas no Brasil e mostrar desconforto com algumas ideias que estão sendo propostas para o segmento.
Confira abaixo, na íntegra, a compilação cronológica dos fatos criada pelo UOL:
Debate sobre regulamentação das apostas foi ignorado por clubes há 4 anos
Hoje assunto pleiteado por clubes e a CBF, o debate sobre a regulamentação das plataformas de apostas no Brasil foi ignorado por quase todas as agremiações há quatro anos.
O que aconteceu?
O evento chamado de ‘Auto-regulamentação brasileira pelo setor de jogos’ aconteceu em junho de 2019, em um hotel em São Paulo.
O único clube que teve um representante na ocasião foi o Vasco, na figura de seu então vice-presidente de Marketing, Bruno Maia.
O encontro contou com nomes importantes como Paulo Saad, vice-presidente do Grupo Bandeirantes; Lorenzo Caci, diretor da Sportradar; Alessandro Valente, CEO da SuperAfiliados; além de executivos de sites de apostas.
Maia, inclusive, acabou fechando para o Vasco um dos primeiros patrocínios oriundos deste mercado no futebol brasileiro. O acordo foi com a NetBet, que estava presente no evento.
“Ninguém tratava disso com atenção quando este fenômeno começou no Brasil. Digo, nenhum clube. Agora, todos querem participar porque chegamos num nível de absurda dependência. Era um mercado de patrocínios que já vinha caindo em 2018 e 2019, mas em 2020 começou a virar por causa apenas deste segmento de apostas” (Bruno Maia, CEO da Feel The Match)
Assunto está sendo tratado pelo Ministério da Fazenda
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prevê arrecadar até R$ 15 bilhões com tributação de sites de apostas. A declaração foi dada à GloboNews na semana passada.
O ministro irá receber dirigentes dos clubes em Brasília hoje (11) para debater a questão.
Os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro e os quatro grandes de São Paulo divulgaram uma nota, no dia seguinte, externando preocupação com as propostas de mudanças na lei e exigindo participação direta nos debates. O comunicado foi assinado por Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco, Corinthians, Palmeiras, São Paulo e Santos.
Em seguida foi a vez da CBF se manifestar e enviar uma demanda ao Ministério da Fazenda, pedindo remuneração maior para o futebol com a regulamentação das apostas esportivas.
Atualmente, 39 dos 40 clubes das Séries A e B são patrocinados por casas de apostas — a única exceção é o Cuiabá.
“As receitas do futebol estão sendo recriadas em várias novas frentes neste momento. Não é chorar sobre o leite derramado, mas chamar a atenção da importância de se olhar além da receita corrente, porque, como diria Belchior, o novo sempre vem e a sua sobrevivência a curto prazo pode passar por ele” (Bruno Maia, CEO da Feel The Match)
O que diz a lei atual
A atual Lei 13.756/2018 prevê que 1,63% sobre o valor da receita bruta dos jogos seja destinado “às entidades desportivas brasileiras que cederem os direitos de uso de suas denominações, suas marcas, seus emblemas, seus hinos, seus símbolos e similares para divulgação e execução da loteria de apostas de quota fixa”, como são conhecidas as apostas esportivas.
Em 2018, o Presidente da República em exercício, Michel Temer, sancionou a MP 846/2018 que regulamentava as apostas esportivas no modelo de quotas fixas. A medida previa a distribuição dos valores arrecadados para áreas da educação, cultura, esporte e segurança pública.
Modus operandi
A revelação trazida pelo UOL não surpreende absolutamente ninguém. Infelizmente, o futebol brasileiro e algumas outras organizações do país como um todo – não podemos jogar essa carga de culpa somente nos clubes -, age de forma conveniente em quase todos os momentos. Não há senso de coletividade no futebol ou na sociedade brasileira, tanto que até hoje não conseguimos, por exemplo, criar uma liga de futebol decente que tire da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) o poder sobre o esporte por aqui.
E se não há acordos em situações que beneficiam o coletivo, quando as pautas caem para as individualidades, aí é que não há qualquer tipo de pensamento que não seja individualizado. O modus operandi do futebol nacional é esse! “Tudo para mim, nada para os outros!”. “Se formos dividir, a minha fatia do bolo tem que ser a maior!”. Não há nada que salve o futebol brasileiro nos próximos anos. As ligas, que estão sendo debatidas, já estão quebradas e as denúncias de beneficiamento individual não param de crescer nas páginas dos jornais.
A verdade é que os clubes de futebol ou até mesmo a CBF não estão nem aí para a regulamentação das apostas esportivas. Ou vocês acham mesmo que o Botafogo, o São Paulo e o Palmeiras estão preocupados se você, apostador, vai colocar o seu dinheiro em uma casa de apostas que segue as normas ou não? É ingenuidade achar que os clubes de futebol, que hoje pleiteiam voz no debate sobre apostas, queiram realmente contribuir com algo nesse processo. O que eles querem, no final das contas – e todo mundo sabe disso -, é somente a garantia de que vão continuar recebendo a maior fatia possível do bolo. É só isso que interessa. E vai ser só isso que vai seguir interessando por muitos e longos anos.
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Escrito por Sérgio Ricardo Jr