A América Latina, conhecida por sua rica diversidade cultural e pela paixão por esportes, tem sido alvo de atenção no crescente setor de jogos e apostas esportivas. Em entrevista ao site SBC News, David Bonnefous, diretor comercial da GiG, uma destacada fornecedora de soluções de plataforma de jogos e apostas esportivas, revelou que a visão de abordagem europeia para os negócios na América Latina ainda é bastante simplista e cheia de falhas.

Bonnefous destacou a complexidade inerente ao setor de jogos na América Latina, enfatizando que cada jurisdição possui as suas próprias peculiaridades regulatórias e hábitos de jogo distintos. Um erro comum, segundo ele, é a visão enganosa de que a América Latina pode ser compreendida através de lentes europeias, como se aquilo que funcionasse na Europa fosse magicamente ser bem sucedido em outras regiões do mundo. Essa simplificação excessiva levou a uma compreensão inadequada das nuances presentes em países como Argentina e México, por exemplo, que têm hábitos de jogo variados.

Confira abaixo, na íntegra, uma versão traduzida da entrevista de David Bonnefous ao SBC News:

SBC News: Muito se tem falado sobre a necessidade de uma ampla experiência nos mercados latino-americanos devido à rápida evolução dos marcos regulatórios, mas qual é exatamente o segredo para oferecer uma oferta verdadeiramente segura e perfeitamente personalizada na região?

David Bonnefous: “Acho que antes de mais nada, e antes mesmo de falar de regulação e marcos regulatórios, o maior problema tem sido o da percepção. Não se pode olhar para a América Latina com olhos europeus. Por muitos anos, a América Latina foi uma terra de .coms, em total contraste com as difíceis regulamentações europeias que foram implementadas na última década. Essa visão era enganosa, pois a América Latina foi rapidamente agrupada como uma terra de licenças de Curaçao, esquecendo muito rapidamente que um argentino ou um mexicano podem ter hábitos de jogo muito diferentes. A partir daí começaram a chegar regulamentos na América Latina, cada um com suas características, e aqui novamente uma das preocupações era realmente tomar cada país, e para alguns até cada província, como uma entidade específica e particular. Pode parecer loucura, mas algumas ofertas funcionam de forma diferente na província de Entre Rios e na província de Buenos Aires. Estamos falando do mesmo país, mas por trás da diferença de regulamentos estão hábitos de jogadores completamente diferentes”.

SBC News: A paixão e o apetite por esportes na América Latina são lendários. Como isso influencia sua abordagem para fornecer uma solução completa que oferece não apenas apostas esportivas de classe mundial, mas também uma oferta personalizada e gerenciamento de risco para cada mercado, operadora e jogador?

David Bonnefous: “Além do design das apostas esportivas, a seleção de esportes também é muito importante. Quais são os quatro esportes mais populares na Argentina? Estou perguntando isso porque o rúgbi está prestes a voltar (por causa da Copa do Mundo deste ano), mas tenho certeza de que esse esporte é totalmente anônimo no Paraguai, que fica aqui ao lado. Fomos muito rápidos em classificar as apostas esportivas como produtos globais baseados em futebol, tênis e basquete. Basta olhar para o beisebol nos EUA, a diferença de GGR entre esses estados emblemáticos e o que é feito na Europa. Alguns esportes e competições são populares em um país por causa da cobertura da mídia, etc., mas a cobertura da mídia pode despencar quando você cruza a fronteira. É por isso que a oferta tem de ser adaptada aos operadores, mas sobretudo aos jogadores locais, que vão procurar uma casa de apostas que lhes convenha e lhes ofereça o que gostam. Não falo em termos de apostas e funcionalidades (é a segunda fase para o apostador), mas sobretudo em termos de desporto e mercados”.

SBC News: Olhando mais de perto para a criação de uma oferta localizada perfeita, conte-nos como uma ampla integração com terceiros, como provedores de cassinos e caça-níqueis e especialistas em pagamentos, pode ajudar a conseguir isso. E qual a importância de fatores como capacidade e velocidade de novas integrações nesse processo?

David Bonnefous: “Não se trata apenas de localização, mas de entender quais provedores terceirizados são populares, para oferecer uma experiência de jogador localizada e personalizada para manter a demanda. Por exemplo, quando se fala em localizar a oferta, não se esqueça dos meios de pagamento, que devem ser adaptados ao país. Na Europa, existem alguns aplicativos de pagamento na Espanha, mas não na França e vice-versa. Mais uma vez, um dos requisitos da plataforma é entender o país para ser funcional com os métodos de pagamento populares. A localização é uma coisa, mas a popularidade é a segunda parte mais importante para criar uma oferta de sucesso. Isso também se aplica a jogos, onde alguns funcionam muito melhor em um país do que em outro. Na GiG, baseamos todos os terceiros na facilidade de integração de produtos de ponta, para que nossos parceiros tenham um portfólio muito amplo para escolher, bem como a possibilidade de seguir nossas recomendações. Com velocidade e facilidade de integração como a base de nossa plataforma, podemos, portanto, ser rápidos no mercado e integrar rapidamente novos fornecedores para fornecer aos nossos parceiros fornecedores terceirizados de sua escolha”.

SBC News: Claramente, a tecnologia é mais do que capaz de oferecer uma oferta localizada, mas a necessidade de suporte contínuo estará na mente dos operadores. Você pode nos contar mais sobre o trabalho diário que será necessário para apoiar os operadores por meio de uma equipe com visão internacional, mas com amplo conhecimento local e Key Account Managers?

David Bonnefous: “Costumo dizer, mas a GiG não é um fornecedor e sim um parceiro. Imagine na Fórmula 1, um fornecedor de pneus que entrega pneus sem explicar suas características ou como otimizar o desgaste da borracha, etc.? Na GiG, a relação com o cliente é a pedra angular: os nossos Key Account Managers apoiam os operadores em cada um dos seus projetos, aconselham-nos e permitem-lhes trazer a sua visão para o negócio. Educar os operadores, apoiá-los, aconselhá-los, estar ao seu lado para análises, otimizações, apresentar-lhes novos fornecedores terceirizados e muito mais. Tudo isso faz parte do nosso DNA. Claro, empatia, capacidade de resposta e relacionamentos também são palavras-chave aqui. Isso é importante para novos operadores que desejam iniciar gradualmente um negócio em parceria com alguém que tenha conhecimento local e uma oferta completa de serviços gerenciados para marketing, operações e gerenciamento de relacionamento com o cliente. Bem como para uma operadora estabelecida que busca criar uma oferta de produtos e marketing 100% personalizada, oferecendo uma experiência de marca completa para seus jogadores”.

SBC News: E, finalmente, vamos falar sobre a necessidade de uma plataforma de jogos e apostas esportivas de ‘nova geração’ – agnóstica e escalável para alcançar a máxima adaptabilidade em um mercado que está preparado para crescer, mas ao mesmo tempo altamente complexo.

David Bonnefous: “O futuro está, de fato, resumido na sua pergunta: criar um produto flexível e dedicado que também atenda a todos os requisitos complexos que um mercado regulamentado pode ter. É complexo porque a regulação pode ter um aspecto monolítico e intransigente. Existem regras a seguir, certas formas de leis imutáveis, que conhecemos muito bem. Mas esses aspectos impedem que as operadoras otimizem suas operações B2C? Eu não acredito nisso. Pelo contrário, isso encoraja a inventividade e a flexibilidade. O que levou a GiG a fornecer toda a flexibilidade de que uma operadora precisa, mantendo a conformidade do ponto de vista regulatório”.

Detalhes importam

É inegável que o cenário dos jogos e apostas esportivas na América Latina está passando por uma fase de crescimento acelerado. Contudo, os pontos levantados por David Bonnefous em entrevista ao SBC News devem ser avaliados, principalmente porque ele não é o primeiro a destacar tais questionamentos. O especialista só confirmou aquilo que muitas outras pessoas já haviam notado. Há muitas empresas crescendo os olhos para o mercado latino sem se preocupar com os detalhes do processo.

O principal ponto levantado por Bonnefous é a percepção distorcida de que o que funcionou na Europa pode ser imediatamente transplantado para a América Latina. Essa abordagem negligencia a complexidade inerente às diferentes jurisdições, regulamentações e comportamentos dos apostadores latinos em países específicos como Argentina, Brasil e México, por exemplo. Cada nação dessa possui as suas peculiaridades e exigências, e um entendimento amplo e adaptado é fundamental para o sucesso de qualquer negócio no mercado latino.

A simples aplicação de produtos globais baseados em esportes populares para os europeus pode não funcionar no mercado latino. E as empresas que tentarem impor as suas demandas no mercado latino logo devem aprender, do pior jeito possível, que as coisas não são tão simples assim. Sem um mergulho profundo na cultura esportiva de cada país, considerando os esportes populares e as formas de mídia que os impulsionam, a chance de fracasso em qualquer tipo de tentativa de negócio no mercado latino cresce exponencialmente.

O futuro do mercado latino de jogos e apostas exige uma abordagem mais flexível por parte de qualquer empresa que deseje estar operando por aqui. A concorrência deve ser muito grande em alguns anos, principalmente quando regiões exponenciais como o Brasil estiverem em pleno funcionamento do seu próprio mercado regulado. Tendo a concordar com as reflexões trazidas David Bonnefous em sua entrevista. A capacidade de se adaptar às regulamentações, ao mesmo tempo em que se mantém a flexibilidade operacional, provavelmente será o que definirá o sucesso das operadoras em nossa região.

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Escrito por Sérgio Ricardo Jr