Anúncios sobre o mercado de jogos e apostas gera preocupação com jovens na Noruega
Recentemente, o regulador norueguês Lotteritilsynet lançou luz sobre uma preocupante questão que tem chamado a atenção do país: a crescente exposição de crianças e jovens a anúncios de jogos de azar e apostas esportivas nas redes sociais. De acordo com um relatório divulgado pela Norwegian Media Authority (Medietilsynet) em 2022, o cenário é alarmante, com 63% das crianças e jovens do país, entre 13 e 18 anos, tendo sido expostos a esses anúncios.
A pesquisa revelou que a faixa etária mais suscetível a esse tipo de marketing é composta por jovens entre 13 e 14 anos, com 64% deles tendo visto anúncios de jogos de azar nos últimos meses. Esse número se mantém praticamente estável para jovens entre 15 e 16 anos. Porém, ainda é elevado para jovens entre 17 e 18 anos, com 61% deles admitindo terem sido expostos a esses anúncios em suas redes sociais.
Embora haja uma leve redução em comparação com o relatório de 2020, tanto o Medietilsynet quanto o Lotteritilsynet continuam preocupados com as implicações dessas descobertas. Os anúncios de jogos de azar incluem tanto propagandas de operadoras licenciadas quanto de empresas offshore, além de conteúdo promocional de influenciadores.
Uso de influenciadores
Uma das principais inquietações das autoridades norueguesas é o uso de influenciadores para atrair crianças e jovens ao jogo ilegal. A consultora jurídica sênior da Medietilsynet, Monica Alisøy Kjelsnes, ressaltou que essas estratégias de marketing têm o potencial de normalizar os jogos de azar mais perigosos, visto que os influenciadores exercem grande influência sobre os seus seguidores, especialmente os mais jovens e vulneráveis.
Para combater essa crescente preocupação, a Lotteritilsynet recebeu recentemente novas ferramentas regulatórias com a entrada em vigor do Gaming Scheme Act em janeiro. Essa lei unificou todos os jogos de azar existentes no país e proibiu operadores não licenciados de promoverem os seus serviços na Noruega. O regulador agora tem o poder de emitir ordens administrativas contra essas empresas, forçando-as a cessar qualquer campanha não autorizada.
Além disso, a Lotteritilsynet iniciou parcerias estratégicas com importantes plataformas de mídias sociais e marcas de tecnologia, como Google, Facebook, Instagram e Apple, a fim de combater a promoção do jogo ilegal. Esforços adicionais também estão sendo direcionados para os influenciadores e embaixadores do jogo, com avisos sendo emitidos e multas sendo aplicadas para aqueles que promovem operadores ilegais.
Reforço dos bancos
Outra frente na batalha contra o jogo ilegal é o aumento de bancos entrando em contato com seus clientes sobre transações com operadores não licenciados. A Lotteritilsynet relata que oito em cada dez bancos na Noruega agora têm rotinas para notificar os clientes sobre transações com essas empresas, um aumento significativo em relação ao estudo de 2020.
Enquanto as medidas regulatórias começam a surtir efeito, um relatório da Universidade de Bergen aponta para uma queda acentuada no número de noruegueses com problemas de jogo desde 2019. Os dados mostram que aproximadamente 23.000 consumidores sofrem atualmente com problemas de jogo, com 93.000 em risco de desenvolver danos relacionados ao jogo. Esses números representam uma queda de mais da metade em relação ao último levantamento realizado em 2019.
A abordagem da Lotteritilsynet para lidar com essa questão parece estar mostrando resultados positivos, mas as autoridades continuam vigilantes e buscam aprimorar as ações para proteger os jovens e a sociedade como um todo dos riscos associados aos jogos de azar. O governo norueguês também está considerando conceder à Lotteritilsynet novos poderes para bloquear sites não licenciados através do DNS, o que poderia representar um passo adiante na regulação do setor e na proteção dos cidadãos.
Preocupação brasileira
Com o avanço da regulamentação das apostas esportivas no Brasil, a preocupação com os anúncios também deve estar presente no dia a dia do mercado de jogos e apostas do Brasil. Assim como já acontece na Noruega e em outros locais do mundo, o marketing agressivo das operadoras de jogos e apostas não costuma respeitar as regras. Um exemplo é justamente o tamanho da exposição que a Noruega detectou em relação aos seus jovens.
Em relação ao agravante dessa situação, que é o uso dos influenciadores para atrair um público diferente do correto, o Brasil já vi essa situação atualmente. Sem responsabilidade e com um discurso completamente equivocado sobre a indústria dos jogos, os influenciadores brasileiros já causam um transtorno muito grande na vida de diversas pessoas, principalmente por não apresentarem a indústria das apostas como realidade. Na Noruega, o número do impacto dessas ações já está sendo identificado, aqui no Brasil ainda não sabemos o tamanho do estrago.
É importante que a indústria e o governo brasileiro começem a se preocupar com o mercado publicitário envolvendo as apostas esportivas. Recentemente, tivemos notícias sobre alguns acordos entre grandes operadoras e o orgão de regulação da publicidade no Brasil para que todos façam um esforço na proposta de autorregulação do mercado publicitário de jogos e apostas no Brasil. Entretanto, esses esforços precisam ser maiores, principalmente porque grande parte do problema está justamente no jeito que os influenciadores atualmente divulgam os produtos relacionados. Existe muito trabalho a ser feito.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr