Indústria das apostas investe bilhões em marketing e impulsiona futebol brasileiro
O mercado de apostas e jogos online no Brasil tem se consolidado como uma das indústrias mais dinâmicas e promissoras do país, atraindo investimentos expressivos que têm impactado diretamente o setor esportivo, especialmente o futebol. Um estudo realizado pelo Itaú Unibanco, através do Departamento de Pesquisa Macroeconômica, revelou que o setor de apostas tem direcionado entre R$ 5,8 bilhões e R$ 8,8 bilhões em ações de marketing. Desse montante, aproximadamente R$ 3,5 bilhões foram destinados ao patrocínio de clubes, competições e transmissões de futebol, reforçando a conexão entre as casas de apostas e o esporte mais popular do Brasil.
O relatório, intitulado “Apostas on-line: estimativas de tamanho e impacto no consumo”, traz à tona a importância estratégica que o marketing exerce sobre a receita das empresas de apostas. De acordo com o estudo, empresas que operam no Brasil seguem uma tendência internacional, alocando entre 45% e 75% de suas receitas em marketing, uma prática observada em mercados mais maduros como o Reino Unido, onde o setor é regulamentado desde 2005, e os Estados Unidos, que passaram a regular as apostas a partir de 2018. A regulamentação brasileira, por sua vez, só foi estabelecida em dezembro de 2023, mas já demonstra potencial para transformar o setor.
Empresas de apostas têm se destacado no cenário nacional ao investirem fortemente no futebol, uma modalidade que, além de ser paixão nacional, oferece um alcance e uma visibilidade incomparável. Kelvin Pereira, diretor da BETesporte, comentou ao site Games Magazine Brasil (GMB) que a empresa apoia importantes clubes do Centro-Oeste, como Goiás e Vila Nova, utilizando o futebol como uma plataforma para se aproximar ainda mais dos torcedores. Rafael Borges, country manager da Reals, enfatizou a importância de figuras públicas como Rodrigo Faro em suas campanhas publicitárias, além de mencionar os patrocínios ao Coritiba e ao Amazonas, que reforçam a presença da marca no futebol brasileiro.
Leandro Figueiredo, head de patrocínios da EstrelaBet, destacou ao GMB que estar associado ao futebol não é apenas uma estratégia de marketing, mas uma maneira de fortalecer a lembrança e a reputação da marca. A empresa patrocina clubes tradicionais como Internacional, Criciúma, América-MG, Ponte Preta, Botafogo-SP e CRB, posicionando-se como um player relevante no mercado de apostas esportivas. Além do impacto no futebol, o estudo do Itaú Unibanco estima que o setor de apostas e jogos online movimentou entre R$ 8 bilhões e R$ 20 bilhões em receitas no Brasil, com uma média de R$ 12 bilhões. Esses números, embora impressionantes, são acompanhados por um certo grau de incerteza, decorrente da limitada transparência que ainda caracteriza o setor.
O estudo também revelou que os brasileiros estão gastando cada vez mais com apostas. Nos últimos 12 meses, foram gastos cerca de R$ 24 bilhões líquidos em bets, o que representa 0,22% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Apesar do aumento expressivo nos gastos com jogos online e apostas esportivas, não houve um impacto significativo no desempenho do varejo, indicando que o consumo de bens de consumo permanece estável. A regulamentação recente do mercado brasileiro de apostas, aprovada em dezembro de 2023, é vista como um marco para o setor.
João Fraga, CEO da techfin Paag, ressaltou ao GMB que a nova legislação traz uma segurança jurídica e financeira necessária para que as empresas possam operar de maneira competitiva e responsável. A regulamentação também estabelece diretrizes para a prevenção à lavagem de dinheiro e promove práticas de jogo responsável, o que é fundamental para transformar a percepção pública do setor, que muitas vezes é visto com desconfiança. Com o Brasil representando 25% de todo o tráfego global de apostas esportivas, o país se posiciona como um dos principais mercados emergentes no cenário mundial. A expectativa é que, com a regulamentação, o mercado brasileiro continue a crescer, atraindo novos investimentos e consolidando-se como um setor-chave para a economia nacional.
Contorno de crise
Está claro que o setor de apostas online se tornou um dos pilares do marketing esportivo no Brasil, especialmente no futebol. O que talvez muitos não percebam é que essa ascensão meteórica veio em um momento crucial para o esporte, que enfrentava um dos períodos mais desafiadores de sua história recente. Durante a pandemia de Covid-19, vimos clubes tradicionais lutando para se manter, visto que muitos deles estavam sem patrocínios e jogando com camisas sem marcas, num cenário de incerteza e apreensão sobre o futuro.
Foi nesse contexto que as casas de apostas entraram em cena, oferecendo não apenas o capital necessário para sustentar os clubes, mas também a esperança de uma retomada. Com contratos milionários e campanhas de marketing agressivas, essas empresas rapidamente se tornaram as principais patrocinadoras de equipes que, sem esse suporte, poderiam ter enfrentado consequências ainda mais drásticas.
O impacto foi imediato: clubes que antes sofriam com a falta de recursos passaram a estampar em suas camisas as marcas dessas novas gigantes do mercado. Além de garantirem a sobrevivência financeira das equipes, essas parcerias também ajudaram a elevar o nível de exposição do futebol brasileiro, que começou a atrair nomes de peso do futebol internacional, muitos deles financiados justamente por esses acordos.
Essa transformação não se limitou aos grandes clubes; até mesmo times menores e em ascensão se beneficiaram do novo fluxo de investimentos, conseguindo competir em condições mais equilibradas. Olhando para o futuro, é difícil imaginar o futebol brasileiro sem a influência dessas empresas. Elas vieram para ficar e, ao que tudo indica, continuarão desempenhando um papel crucial no desenvolvimento e na profissionalização do esporte no país. A pandemia trouxe desafios imensos, mas também abriu caminho para que novas forças emergissem, transformando o que poderia ter sido um período de estagnação em uma oportunidade de reinvenção, fortalecimento e contorno de crise.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr