Editorial do Estadão reconhece eficácia do monitoramento nas apostas esportivas
Em editorial, o jornal Estadão afirma que a recente operação da Polícia Federal em endereços ligados ao Flamengo e ao atacante Bruno Henrique é um exemplo da eficácia dos mecanismos de combate a fraudes no mercado de apostas esportivas, em fase de regulamentação no Brasil. O jogador é investigado por supostamente ter forçado um cartão amarelo para favorecer apostas de familiares e amigos durante um jogo do Campeonato Brasileiro.
Confira abaixo, na íntegra, a publicação editorial do Estadão a respeito do tema:
Caso Bruno Henrique traduz eficácia no combate a fraude nas apostas
A operação deflagrada ontem pela Polícia Federal, com apoio do Ministério Público, em endereços do Flamengo traduz a eficácia dos mecanismos usados para coibir as fraudes no mercado de apostas esportivas, em fase de regulamentação no Brasil. O principal alvo foi o atacante Bruno Henrique, suspeito de ter forçado um cartão amarelo em partida do Campeonato Brasileiro para beneficiar parentes e amigos. O episódio ocorreu em 1º de novembro de 2023, numa partida entre Flamengo e Santos em Brasília (a equipe paulista venceu por 2 a 1). Nos acréscimos do segundo tempo, Bruno Henrique levou amarelo depois de uma falta. Em seguida, recebeu o vermelho por ofender o árbitro, segundo a súmula do jogo.
A investigação foi iniciada a partir de uma comunicação da Unidade de Integridade da CBF, de relatórios da International Betting Integrity Association e da empresa Sportradar, que monitoram o mercado. Dados obtidos junto às casas de apostas revelam palpites suspeitos. Além do próprio Bruno Henrique, a PF investiga um irmão dele, uma cunhada, uma prima e moradores de Belo Horizonte, sua cidade natal. A operação reuniu mais de 50 agentes e cumpriu 12 mandados de busca e apreensão, não só no Flamengo, mas também na casa do jogador, na Barra da Tijuca, em empresas de que ele é sócio e em cidades como Lagoa Santa, Ribeirão das Neves, Vespasiano e Belo Horizonte, em Minas Gerais.
Com a expansão das apostas em todo o mundo, suspeitas de manipulação de resultados se tornaram frequentes. O jogador Lucas Paquetá, ex-Flamengo, atualmente no West Ham, é investigado pela Federação Inglesa sob a acusação de receber cartões amarelos de forma deliberada em jogos da Premier League para beneficiar amigos. O atacante Luiz Henrique, do Botafogo, é alvo de uma investigação na Espanha que apura a manipulação de resultados para fraudar apostas esportivas.
A questão ganhou vulto no ano passado, com a descoberta de um esquema de manipulação de resultados. Jogadores eram aliciados por quadrilhas para fazer pênaltis ou levar cartões de forma intencional. As investigações do Ministério Público de Goiás (estado onde o caso foi descoberto) alcançaram não apenas clubes da Série B, mas também times da elite do futebol brasileiro. Em maio do ano passado, 16 suspeitos foram denunciados por fraudes em partidas do Brasileirão e de campeonatos estaduais.
Tanto no Brasil quanto no exterior, empresas contratadas pelas federações rastreiam as movimentações suspeitas. Embora evidentemente não peguem 100% dos casos, a mera investigação do episódio envolvendo Bruno Henrique comprova a eficácia do monitoramento. As maiores interessadas em detectar e coibir fraudes são as próprias empresas de apostas, as bets, já que são as primeiras a perder. Clubes e federações também devem se empenhar para que a prática criminosa não prospere. Será ruim para o futebol se torcedores acreditarem que pênaltis e cartões discutidos à exaustão nas resenhas esportivas não passam de teatro.
Fonte: Estadão
Construção de imagem
Com a expansão do setor de apostas e a sua crescente popularidade, principalmente no Brasil, garantir a transparência e a credibilidade é um passo essencial para consolidar a reputação do mercado. Por isso, é fundamental que a grande mídia valorize e informe o público sobre o trabalho complexo e tecnológico por trás do combate a fraudes, mostrando como esse mercado se estrutura para proteger a integridade do esporte e dos apostadores. Esse tipo de construção de imagem, digamos assim, é necessária sobretudo porque não é fictícia, trata-se apenas da verdade.
A comunicação entre entidades esportivas, como a Unidade de Integridade da CBF, e empresas especializadas, como a Sportradar, que monitoram irregularidades nas apostas, exemplifica a vigilância constante aplicada ao setor. Mesmo em casos menos evidentes, como o suposto cartão amarelo forçado por Bruno Henrique, os sistemas detectam movimentações suspeitas e alertam as autoridades. Essa vigilância vai muito além do que se imagina, pois utiliza protocolos rigorosos e tecnologias avançadas que analisam, de forma detalhada, qualquer comportamento fora do padrão nas apostas. Quanto mais a população entende o que está por trás desse monitoramento, maior é a confiança no setor.
Embora nem toda tentativa de manipulação seja detectada, fraudes em grande escala e até pequenas interferências, como no caso de cartões ou faltas deliberadas, raramente passam despercebidas. O fato de esse tipo de investigação se estender a jogadores tanto na Premier League, como Lucas Paquetá, quanto no Brasileirão, mostra que não importa o lugar ou o nível do campeonato: quem tenta manipular o sistema enfrenta um nível de monitoramento que torna essas fraudes arriscadas. Empresas de apostas e federações de futebol têm um interesse direto em combater qualquer atividade suspeita, pois são as primeiras a sofrer com o impacto financeiro e de imagem quando ocorre manipulação de resultados.
Portanto, a mídia tem um papel fundamental em destacar esses avanços e a eficácia dos métodos utilizados, ajudando a promover um mercado de apostas mais transparente e seguro. Quanto mais o público conhece esses processos, maior é a aceitação e a seriedade atribuída ao setor. Quem deseja manipular o mercado de apostas agora enfrenta uma rede de vigilância sofisticada, com uma fiscalização que, apesar de não ser infalível, torna o ambiente cada vez mais seguro para todos os envolvidos.