A Câmara dos Deputados do Brasil tem se movimentado nos últimos dias para instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) com foco na investigação dos recentes casos de manipulação de resultados no futebol brasileiro. O requerimento da “CPI das Apostas Esportivas”, liderado pelo deputado federal Felipe Carreras (PSB),  já conta com a assinatura de mais de 100 deputados, além do apoio do presidente da câmara, Arthur Lira. Para ser instaurada, a CPI precisa ser endossada por, no mínimo, 171 deputados.

Confira abaixo, na íntegra, uma reportagem do jornalista Demétrio Vecchioli em sua coluna Olha Olímpico, no portal UOL, com todos os detalhes da possível CPI das Apostas Esportivas:

Lira demonstra apoio e deputado tenta viabilizar CPI das apostas esportivas

Mais de três anos depois da última vez que a Câmara dos Deputados instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a Casa pode se debruçar sobre as acusações de manipulação de resultados em eventos esportivos para beneficiar apostadores.

O requerimento para a criação da CPI das Apostas Esportivas, iniciativa do deputado federal Felipe Carreras (PSB-PE), já recebeu mais de 100 assinaturas e o apoio informal do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). É necessário o endosso de 171 deputados para uma CPI ser instaurada.

O que aconteceu?

A proposta surgiu depois da operação “Penalidade Máxima”, deflagrada pelo MP-GO, que investiga a manipulação de três jogos da última rodada da Série B do ano passado. Um apostador, Bruno Lopez de Moura, teria cooptado jogadores de três times — Vila Nova, Sampaio Corrêa e Tombense – para cometerem pênalti no primeiro tempo de seus jogos.

A denúncia partiu da diretoria do Vila Nova, que revelou ao MP que Romário, ex-jogador do clube, teria tentado convencer colegas a cometer o pênalti. Bruno pagaria R$ 150 mil por isso. Romário inicialmente seria o responsável pela fraude, mas ele não foi relacionado para a partida. O apostador perdeu a aposta, apesar dos pênaltis cometidos por Matheusinho, do Sampaio, e Joseph, do Tombense.

O que seria investigado

Carreras diz que a informação que circula entre deputados ligados a clubes de divisões inferiores do futebol brasileiro é a de que as tentativas de manipulação de jogos têm sido recorrentes. O STJD do futebol investiga mais três jogos da Série B de 2022, um da Série C e outro da Série D.

No mês passado, o Iranduba foi rebaixado no Campeonato Amazonense depois que um relatório da CBF apontou a possibilidade de envolvimento do clube na manipulação do jogo contra o Amazonas FC, vencido pelo rival por 7 a 0. Em 2022, um funcionário do Santos procurou uma jogadora do Red Bull Bragantino para que o time facilitasse que as santistas marcassem gols. Ela relatou o caso à diretoria.

Exceto pelo caso do Iranduba, não há indícios de envolvimento de dirigentes de clubes ou de federações com as manipulações de resultados. Da mesma forma, não há indício de participação das casas de apostas, que, até onde se sabe, são vítimas dos golpes — são elas, afinal, que pagam os prêmios aos apostadores que fraudam resultados. Uma eventual CPI poderia ir mais a fundo e buscar peixes maiores.

Apoio de Lira

Carreras, que é líder da bancada do PSB na Câmara, esteve com Lira na semana passada e ouviu do presidente da Câmara que teria seu apoio para recolher as 171 assinaturas necessárias para a abertura da CPI. Até então, a CPI era só uma ideia verbalizada pelo deputado pernambucano. Agora, é uma iniciativa prática.

A CPI também é bem vista pelo governo, uma vez que ajudaria na desarticulação de uma CPMI, CPI mista entre Câmara e Senado, para investigar os atos golpistas de 8 de janeiro. A comissão, articulada pela oposição, vem sendo proposta como forma de investigar as responsabilidades do governo federal.

Fonte: Demétrio Vecchioli (Olhar Olímpico – UOL)

Assunto sério

Não esperava que as apostas esportivas estivessem no centro de uma CPI no Brasil. Como a própria reportagem do jornalista Demétrio Vecchioli aponta, há mais de três anos não temos uma CPI no Brasil, ou seja, nem mesmo outros assuntos mais importantes do dia a dia brasileiro estiveram na mira de uma investigação do congresso, mas as apostas esportivas chegaram para romper esse hiato.

Não há nada a se comemorar com essa notícia. Como temos alertado, o mercado brasileiro das apostas esportivas está quente, e uma regulamentação deve sair ainda neste mês. Assim como o processo de regulamentação, a possível CPI das apostas está relacionada diretamente com o avanço do crime organizado dentro desse setor no país. Quadrilhas estão infiltradas entre apostas apostadores para manipular resultados esportivos.

Me anima observar que a solicitação da CPI partiu do deputado Felipe Carreras (PSB). Felipe é um aliado da indústria das apostas esportivas e uma dos maiores defensores da causa no congresso, o que nos faz ter boas expectativas quanto ao teor da investigação parlamentar. É importante atuar para identificar as atuais falhas na indústria e punir os responsáveis pelos crimes que estão acontecendo. A CPI também pode ser um espaço de soluções, por isso é fundamental que se lute por uma regulamentação que seja boa para todas as partes e que contenha gatilhos fortes o suficiente para suportar as tentativas de manipulação de resultados no futebol brasileiro, visto que elas devem seguir acontecendo.

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Escrito por Sérgio Ricardo Jr