Basquete brasileiro estuda mudança nas regras após operação Penalidade Máxima
A operação Penalidade Máxima, conduzida pelo Ministério Público de Goiás, que investiga possíveis casos de manipulação de resultados envolvendo apostas esportivas no esporte brasileiro, já está tendo efeitos em outras modalidades esportivas. A Liga Nacional de Basquete (LNB), diante dos fatos que estão ocorrendo no futebol, está avaliando mudanças em seu regulamento para combater casos de manipulação de jogos na modalidade.
Em depoimento publicado pelo portal Máquina do Esporte, Sérgio Domenici, CEO da LNB, afirmou que embora proporcionalmente os números de casos sejam pequenos, eles são alertas importantes para o que pode acontecer. Domenici ressaltou que a manipulação de jogos pode ocorrer em qualquer modalidade. Nas últimas semanas, a operação policial prendeu diversas pessoas envolvidas na cooptação de atletas para realizar ações durante jogos de futebol em benefício de apostadores. A operação também cumpriu 20 mandados de busca e apreensão em 16 cidades de seis estados brasileiros.
Envolvidos se tornam réus
Alguns dos envolvidos nas denúncias da operação Penalidade Máxima se tornaram réus após a justiça aceitar a denúncia do Ministério Público de Goiás, como resultado da operação que investiga possíveis manipulações de resultado em 14 partidas no futebol brasileiro. Entre os jogos comprometidos, estão partidas da Série A do Brasileirão 2022 e também dos estaduais. Com isso, 16 pessoas se tornaram réus na ação, que envolve apostadores, financiadores e jogadores.
De acordo com informações divulgadas pelo portal UOL, a base da denúncia feita pelo Ministério Público de Goiás enquadra os envolvidos em alguns artigos do Estatuto do Torcedor. São eles:
Artigo 41-C: Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva ou evento a ela associado. Pena: 2 a 6 anos de prisão e multa;
Artigo 41-D: Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva ou evento a ela associado. Pena: 2 a 6 anos de prisão e multa.
Os réus:
Eduardo Bauermann, zagueiro do Santos
Gabriel Tota, meia do Juventude em 2022, atualmente emprestado ao Ypiranga-RS
Victor Ramos, zagueiro da Chapecoense, que atuou na Portuguesa em 2023
Igor Cariús, lateral-esquerdo do Cuiabá em 2022, atualmente no Sport
Paulo Miranda, zagueiro do Juventude em 2022, afastado do Náutico em 2023
Fernando Neto, meia do Operário-PR em 2022, atualmente no São Bernardo
Matheus Gomes, goleiro do Sergipe
Bruno Lopez, o BL, considerado líder do esquema (apostador)
Ícaro Fernando Calixto (apostador)
Luís Felipe Rodrigues de Castro (apostador)
Victor Yamasaki Fernandes (apostador)
Zildo Peixoto Neto (apostador)
Thiago Chambó Andrade (apostador)
Romário Hugo dos Santos, o Romarinho (apostador)
William de Oliveira Souza, o Mclaren (apostador)
Pedro Gama dos Santos Junior (apostador)
Mudanças no regulamento
Neste momento, o regulamento da LNB, que engloba competições como o Novo Basquete Brasil (NBB), não possui regras específicas para a área de apostas esportivas, mas algumas mudanças estão sendo estudadas. CEO da entidade, Sérgio Domenici acredita que é possível combater o problema com o regulamento geral da modalidade. Embora ainda não exista uma regra específica para apostas na entidade, Domenici afirma que tudo que se afasta da esfera esportiva pode ser combatido na justiça. “Essencialmente, não temos um item específico [nas regras da entidade] para apostas. Mas qualquer coisa que se afaste da esfera esportiva pode ser combatida na justiça cível e na esfera disciplinar esportiva”, declarou Domenici, em fala publicada pelo portal Máquina do Esporte.
Assim como acontece em outros esportes, o basquete nacional também vive uma dependência dos patrocínios envolvendo empresas de apostas esportivas. A Liga Nacional de Basquete (NBB), por exemplo, tem o suporte de uma plataforma de apostas como parceira, a Sportsbet.io. Além disso, a referida plataforma também atua como patrocinadora máster do time de futebol do São Paulo. Vale ressaltar que o contrato celebrado entre a liga de basquete e o site de apostas possui uma vigência que se estende até o ano de 2025.
Aprendemos na dor
Os desdobramentos da operação Penalidade Máxima, que investiga casos de manipulação de resultados envolvendo apostas esportivas no Brasil, não passam de mais um grande exemplo cultural do nosso país. Embora eu odeie generalizar uma sociedade inteira, a verdade é que estamos muito acostumados a aprender somente após sentir uma dor. Ou seja, enquanto não acontece algo que nos choque e nos faça sentir na pele um problema, não costumamos agir para preveni-lo. Acredito que isso tenha acontecido um pouco neste caso.
A manipulação de jogos pode ocorrer em qualquer modalidade esportiva, e a LNB está certa em tomar medidas preventivas para evitar esse tipo de prática desonesta. As mudanças no regulamento, embora ainda não definidas, são necessárias e devem ser elaboradas com cuidado para que sejam eficazes na prevenção de casos de manipulação de jogos. Engana-se quem pensa que só existe manipulação de resultados no futebol. Dados recentes do International Betting Integrity Association (IBIA), por exemplo, revelaram alguns casos de manipulação de resultados recorrentes em outros esportes, como o tênis.
O envolvimento de jogadores em casos de manipulação de resultados é um problema grave e prejudica a integridade das competições, além de colocar em suspeição todo mundo. Treinadores, árbitros, jogadores, médicos, clubes e inclusive os próprios apostadores, pessoas que muitas vezes não tem absolutamente nada a ver com a situação, mas acabam “pagando o pato”. Além disso, esse tipo de prática afeta diretamente a credibilidade dos esportes e resulta no afastamento de patrocinadores, fãs e investidores.
Penso que não precisamos permanecer para sempre neste estado de aprender as coisas na marra. Falta um trabalho bem elaborado de prevenção no Brasil, e aqui me refiro a uma infinidade de situações, não somente ao esporte brasileiro e a possíveis casos de manipulação. Como diz a sabedoria popular, a prevenção sempre é o melhor remédio. Creio que a postura do basquete brasileiro é correta e os responsáveis devem prosseguir na ideia de adaptar os regulamentos para coibir casos semelhantes aos denunciados na operação Penalidade Máxima. É necessário agir com firmeza para sairmos desse buraco que nós mesmos nos enfiamos.
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Escrito por Sérgio Ricardo Jr