Os segredos do processo de precificação nas apostas
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ter 26 ago/25

Os segredos do processo de precificação nas apostas


Banner de apresentação do Sergio Freitas, autor do texto Os segredos do processo de precificação nas apostas esportivas.

E aí os caras!

Quando falamos de apostas esportivas, existe um ponto que separa os amadores dos profissionais: a precificação. Apostar sem precificação é simplesmente jogar contra a sorte. Contudo, apostar com uma precificação prévia é atuar de forma estratégica. Esse costuma ser o grande diferencial entre os apostadores.

O apostador comum muitas vezes acredita que está apenas tentando adivinhar os resultados dos jogos, enquanto o profissional que domina a precificação está conscientemente medindo risco e valor. É isso que transforma uma simples aposta em uma ação que busca retorno financeiro.

Nos últimos anos, venho me aprofundando nesse tema, seja nos meus conteúdos ou em treinamentos que tive a oportunidade de realizar na área. Recentemente, ao concluir um curso voltando para oddmakers, ministrado pelo britânico Jonathan Smith, um dos maiores nomes da precificação no mundo e referência em um mercado de apostas muito mais evoluído do que o brasileiro, percebi que ainda havia pontos cruciais que nós, no Brasil, pouco exploramos.

A visão de dentro: como as casas de apostas fazem a precificação?

O ponto-chave que mudou a minha forma de pensar é a visão do lado da casa de apostas. Afinal, entender como um oddmaker constrói os preços é essencial para compreender a lógica do mercado.

Antes de seguir, me responda a seguinte pergunta:

É mais fácil ser um apostador lucrativo ou trabalhar como oddmaker em uma casa de apostas, precificando jogos e os oferecendo para os usuários apostarem?

Ao contrário do que muitos imaginam, precificar para uma casa de apostas não significa prever os resultados com exatidão.

O oddmaker tem a vantagem de poder errar. Isso mesmo: ele pode errar porque está protegido pelos limites de apostas, pela margem embutida nas odds (juice) e pelos ajustes feitos conforme o mercado reage.

Funciona assim: o oddmaker lança o preço inicial, muitas vezes sem necessidade de estar 100% correto. Ele coloca limites baixos, observa o movimento das apostas e vai ajustando gradualmente.

Se o mercado corrige, ele acompanha, e só então aumenta os limites.

Para o apostador, a realidade é muito mais dura. Ele não tem margem de erro. Precisa ser assertivo, precisa enfrentar as limitações impostas pelas casas, lidar com a paciência, a disciplina e o peso emocional das perdas. E é por isso que eu digo: ser oddmaker é mais fácil do que ser um apostador lucrativo no Brasil.

O desafio das Super Odds

Atualmente, trabalho como oddmaker. No entanto, não atuo como um Sport Trader Pre Match tradicional. Hoje, sou responsável por criar as Super Odds para uma casa de apostas. E aqui está um desafio extra para essa função específica: aumentar as cotações sem oferecer valor (EV) para o apostador.

Nos primeiros meses executando essa função, confesso que eu quebrei muito a cabeça. Afinal, não se trata apenas de marketing, trata-se de lucratividade também. Uma Super Odd mal construída pode entregar valor real para os jogadores, e isso significa prejuízo para a casa que me contratou. Por isso, hoje entendo que construir uma Super Odds exige um equilíbrio muito mais complexo do que simplesmente precificar. As ferramentas tecnológicas, que uso ao meu favor, se tornaram vitais para me ajudar a elaborar esse tipo de evento.

O jogo das regras

Uma frase me marcou muito no processo de aprendizado de uma nova função:

“A casa de apostas não precisa prever os resultados. Ela só precisa convencer você a jogar com as regras que a favoreçam.”

E essa frase se aplica não só ao mercado profissional, mas também as situações cotidianas. Um exemplo claro disso aconteceu em um bolão da empresa em que participei. Fiz três apostas, todas de R$ 50, e ganhei as três. O detalhe interessante é que, em todas elas, eu estava ao lado do valor.

As pessoas contra quem apostei não avaliaram o preço, não olharam para o valor. Elas simplesmente aceitaram o desafio pelo ego, como se estivessem “defendendo uma posição” ou mostrando confiança na própria opinião. Ou seja, entraram no jogo sob as regras que me favoreciam. Eu poderia ter apostado valores mais altos, mas preferi manter o limite.

O importante aqui é a lição: não se tratava de prever resultados, mas de estar ao lado do valor. Esse episódio mostra exatamente a essência da frase, pois as casas de apostas fazem a mesma coisa: criam um ambiente em que você se sente desafiado, confiante ou atraído pela emoção, mas no fim, joga com regras que a favorecem.

A importância da ordem de fecho

Outro ensinamento marcante que trouxe do treinamento como oddmaker é o seguinte:

“Ironia do mercado: o que realmente aconteceu em campo é menos importante do que o mercado esperava que acontecesse.”

Essa frase resume a força da ordem de fecho.

O que significa isso? Que no longo prazo, o preço final do mercado, aquele que se consolida instantes antes do início da partida, é o melhor reflexo da probabilidade real do evento.

Esse conceito se apoia em dois pilares:

1. Lei dos grandes números – quanto maior o volume de apostas e maior o número de pessoas participando, mais o preço converge para a probabilidade real. Uma única pessoa pode estar equivocada; o coletivo, no longo prazo, tende a ser mais preciso.

2. Sabedoria da multidão – cada apostador traz um pedaço de informação. Alguns usam estatísticas avançadas, outros têm insights locais, e mais alguns reagem a notícias. Quando tudo isso se acumula no mercado, o preço se ajusta e tende a refletir a visão mais próxima da realidade.

Por isso, as odds de fecho são consideradas por muitos profissionais como o benchmark do valor. Se você aposta constantemente em preços que, no fechamento, ficaram melhores do que o mercado, isso é sinal de que o seu modelo está no caminho certo e você está batendo o mercado.

Aposta de valor: o verdadeiro norte

E aqui entra o conceito central da precificação. Uma aposta de valor não é acreditar no time mais forte, nem confiar na intuição. Uma aposta de valor surge quando o preço justo que você calculou diverge positivamente do preço oferecido pela casa de apostas.

Se o seu modelo indica que a odd justa para determinado evento é 2.00, e a casa oferece 2.20, você tem um valor positivo (+EV).

Se a odd da casa for 1.80, você tem valor negativo (-EV).

Simples assim.

Portanto, a chave está em construir o seu próprio preço. Sem isso, você aposta no escuro.

Múltiplas: multiplicando valor (ou prejuízo)

Outro ponto importante sobre a precificação é a questão das múltiplas. Muita gente as utiliza sem entender o impacto do valor. Se você soma eventos que são +EV, esse valor se multiplica na múltipla. Mas se os eventos forem -EV, a multiplicação é do prejuízo.

E é justamente nessa percepção que muitas casas constroem ofertas aparentemente atraentes, mas que, no longo prazo, drenam a banca dos apostadores.

Como eu faço a minha precificação

Na minha prática cotidiana, utilizo um modelo estruturado em três pilares:

Odds de fecho (60%): servem como base inicial de mercado.
Expected Goals – xG (25%): oferecem uma leitura mais aprofundada da produção real de cada time.
Poisson (15%): complementa com uma distribuição probabilística de gols.

Tudo isso é consolidado dentro de um Power Ranking, que atualizo rodada a rodada. Só depois de concluir o meu modelo é que comparo os resultados com as casas, identifico onde há valor e, então, defino asminhas apostas e compartilho com a minha comunidade.

Conclusão

A precificação é a linha divisória entre o amadorismo e o profissionalismo nas apostas. Quem precifica, aposta com base em valor, transforma o risco em busca por retorno e aprende a jogar com as regras que o favorecem.

Do lado da casa, a precificação é uma ferramenta de proteção e ajuste constante. Do lado do apostador, é uma necessidade vital para sobreviver no mercado.

E nunca se esqueça da lição de Jonathan Smith: o placar do jogo é só um ruído, o que realmente acontece em campo é menos importante do que aquilo que o mercado esperava que acontecesse.

No fim, vencer o mercado é mais importante do que acertar o placar.

Portanto, se existe um aprendizado central aqui, é este: não tente prever os resultados, construa preços, busque valor e jogue o jogo com as suas próprias regras.

Até a próxima!

Sergio Freitas

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