Emissoras de TV temem medidas restritivas de publicidade para apostas esportivas
A recente discussão sobre impor limites à publicidade de casas de apostas esportivas tem causado apreensão em algumas das maiores redes de TV no Brasil. De acordo com informações divulgadas pela Folha de SP, entre as emissoras mais afetadas, Record, Band e RedeTV! expressam preocupação com os impactos financeiros dessa medida, uma vez que essas empresas possuem acordos significativos com o setor de apostas.
A Record, por exemplo, depende de patrocínios de casas de apostas em programas de grande audiência, como o reality show A Fazenda, além de transmissões de eventos esportivos. O cenário para Band e RedeTV! também é desafiador: executivos das duas redes afirmam que sem o patrocínio das bets, a viabilidade financeira da transmissão de eventos esportivos estaria comprometida. Isso porque essas empresas são as únicas capazes de pagar valores elevados o suficiente para cobrir os custos e gerar lucro com os direitos de transmissão.
A Globo, embora igualmente envolvida em contratos de patrocínio com casas de apostas para eventos como o Campeonato Brasileiro e o Big Brother Brasil, mantém uma postura mais cautelosa. A emissora aguarda definições mais claras por parte do governo antes de tomar qualquer medida. Dados da Tunad, uma plataforma de monitoramento publicitário, indicam que, embora as apostas representem apenas 3% do total de anúncios na TV aberta entre janeiro e julho deste ano, esse percentual salta para 30% durante as transmissões esportivas.
O ministro Fernando Haddad defende a necessidade urgente de limitar o que chama de “assédio televisivo” das casas de apostas, destacando o impacto dessa exposição no público. Em reunião com representantes do Conar, da Abert e da AIR, foi estabelecido que apenas as empresas de apostas devidamente autorizadas pelo Ministério da Fazenda poderão anunciar nas emissoras brasileiras. Flávio de Lara Resende, presidente da Abert, garantiu que as emissoras seguirão rigorosamente essa diretriz, comprometendo-se a não veicular publicidade de empresas não regularizadas.
Muitos impactados
As casas de apostas esportivas dominam, sem sombra de dúvida, o mercado publicitário ligado ao esporte no Brasil, e isso beneficia imensamente as emissoras de televisão. Com contratos robustos, essas empresas garantem que eventos de grande apelo, como jogos de futebol e até reality shows, possam ser transmitidos ao público de forma gratuita. O patrocínio das “bets” é o que torna possível manter essas transmissões economicamente viáveis, especialmente considerando os altos custos de direitos de transmissão e produção ao vivo.
Agora, com a proposta do governo de impor restrições à publicidade de apostas, é inevitável pensar nos impactos profundos que isso pode gerar. Sem esse fluxo financeiro, muitas emissoras, como Record, Band e RedeTV!, podem enfrentar dificuldades sérias para manter sua programação esportiva e de entretenimento no ar. Há, inclusive, o risco de que eventos de grande importância deixem de ser exibidos gratuitamente na TV aberta, o que traria uma consequência direta não apenas para o setor de comunicação, mas também para o público em geral. O telespectador, seja ele apostador ou não, poderia perder o acesso a essas transmissões.
Esse momento é delicado e pode ser transformador para a dinâmica do mercado publicitário esportivo. Se o governo de fato endurecer as regras para as apostas, não são apenas as emissoras que sofrerão. O impacto vai reverberar em diversos setores comerciais, e o público pode acabar arcando com parte dessa mudança, seja perdendo opções de entretenimento gratuito ou vendo a publicidade esportiva minguar. Por outro lado, a necessidade de equilibrar os interesses econômicos com a proteção dos consumidores também é crucial. Fica a reflexão sobre como o mercado irá se reinventar diante desse cenário de possíveis novas regras.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr.