O governo federal está avaliando a criação de uma cartilha educativa voltada para o público que participa do universo das apostas esportivas. A iniciativa viria como fruto de uma cooperação entre os ministérios da Fazenda e da Saúde. O objetivo é desenvolver orientações sobre os riscos envolvidos no segmento e promover a conscientização das pessoas sobre a dependência das apostas.

De acordo com o secretário de Prêmios e Apostas, Régis Dudena, será formado um grupo de trabalho interministerial para a execução dessa iniciativa. Ele chegou a destacar, em entrevistas, que essa colaboração permitirá a obtenção de dados técnicos que servirão de base para o diálogo com as casas de apostas. “Essa interação vai nos permitir receber informações técnicas e utilizar na nossa relação com as casas de apostas”, afirmou Dudena.

Uma das propostas em discussão envolve a participação das próprias casas de apostas na elaboração de materiais educativos. O governo ficará responsável por fornecer um documento com temas de interesse, especialmente voltados para a saúde do consumidor. Com base nesse material, as empresas poderão criar suas próprias campanhas de conscientização.

Além disso, está em estudo a criação de um questionário padrão que deverá ser disponibilizado por todos os agentes do mercado, com o intuito de coletar dados sobre o comportamento dos apostadores. Informações tais como o tempo de exposição à tela e a frequência de realização das apostas online poderão ser analisadas, permitindo uma melhor compreensão do impacto das apostas na vida dos usuários.

O governo também considera integrar o Sistema Único de Saúde (SUS) em ações voltadas para o tratamento de vícios relacionados às apostas. A previsão é que, a partir de 2025, com a implementação da nova legislação, os dados coletados possam subsidiar políticas públicas mais eficazes. Essa iniciativa é vista como um esforço conjunto para fortalecer a conscientização sobre os riscos do vício em apostas esportivas, e pode ser encarada como uma resposta do governo aos pedidos para desenvolvimento de políticas de saúde pública que enfrentam os iminentes problemas relacionados à indústria das apostas.

 Necessidade

A iniciativa do governo de criar uma cartilha educativa sobre as apostas esportivas é um passo necessário, mas que não escapa de certos desafios. Afinal, estamos falando de um setor onde o apelo do lucro fácil, que raramente se concretiza, contrasta com os riscos de dependência e as consequências negativas para muitos apostadores. O problema é que, enquanto o governo propõe ações que parecem sensatas no papel, a linha que separa o que deveria ser feito e o que realmente será executado ainda é nebulosa.

Um ponto crítico aqui é a distância entre a realidade do mercado de apostas e a percepção que o governo tem sobre o tema. A indústria das apostas não está centrada apenas no entretenimento, mas esse parece um papo quase proibido diante das autoridades. Naturalmente, com isso, a impressão que fica é que o governo caminha a passos lentos, tentando regulamentar um segmento sem necessariamente entender como ele funciona ou muito menos a complexidade dos problemas que ele pode causar.

Mesmo assim, não podemos negar a importância de iniciativas que levem informações claras e acessíveis ao público. A maioria dos apostadores não lucra, e há uma parcela significativa de pessoas que desenvolvem problemas com essa prática. Enquanto o “jeito certo” para lidar com a questão talvez demore a ser desenvolvido, precisamos lidar com as ferramentas disponíveis no momento. A cartilha proposta pode não ser a solução definitiva, mas é um esforço que, mesmo com suas limitações, já serve para abrir o diálogo sobre os riscos envolvidos no meio das apostas.

Escrito por Sérgio Ricardo Jr