Em meio ao crescente debate sobre a relação entre o futebol e os patrocínios de empresas relacionadas às apostas esportivas, o presidente da English Football League (EFL), Rick Parry, expressou veementemente o seu apoio a essas parcerias, destacando que os acordos atualmente feitos entre clubes, federações e empresas do setor são uma forma de promover a justiça financeira no ambiente esportivo, visto que o segmento de jogos e apostas lucra bilhões explorando o esporte.

A discussão sobre os vínculos entre o esporte e a indústria de apostas foi reacendida na Inglaterra recentemente com a suspensão de dez meses aplicada ao meio-campista do Newcastle United, Sandro Tonali, pela Federação Italiana de Futebol (FIGC), devido a problemas com dependência em relação às apostas esportivas. Além disso, o meia também está sob investigação pela Football Association (FA) por possíveis violações das regras de apostas na Inglaterra, e ainda pode sofrer outras sanções.

Em resposta a essas questões e o aumento no número de casos envolvendo jogadores e apostas, a campanha Big Step, apoiada pela instituição de caridade Gambling with Lives, enfatizou a necessidade de ter empatia e apoiar os jogadores que atualmente estão enfrentando problemas de dependência. A organização utilizou analogias fortes para tratar o tema, inclusive comparando o ambiente de patrocínios de apostas no futebol ao desafio de tratar dependentes químicos.

EFL e Sky Bet

A opinião favorável de Rick Parry aos patrocínios de casas de apostas no esporte não surpreende, visto que a EFL renovou recentemente um acordo com a marca de apostas Sky Bet como patrocinadora da liga até 2029. Parry argumenta que as empresas de apostas lucram bilhões de libras com a exploração do mercado esportivo, e defende a ideia de que parte desse lucro seja realmente canalizado de volta para o esporte. “É justo que haja uma forma de canalizar parte dessa receita para o esporte”, afirmou o presidente da EFL.

Em relação à preocupação sobre o impacto dos patrocínios de apostas na incidência de jogo e nos danos associados, Parry afirma que extensivas pesquisas não revelaram evidências de uma correlação direta. “Encomendamos pesquisas, analisamos extensivamente e não vimos nenhuma evidência de que o patrocínio leve a um aumento no jogo ou nos danos causados ​​pelo jogo. Os valores do jogo na Inglaterra têm permanecido bastante estáveis ​​ao longo das décadas e não há correlação direta entre o patrocínio e os danos do jogo. Ninguém quer prejudicar o jogo, ninguém quer que os jogadores se tornem viciados, ou mesmo não jogadores”, afirmou.

Ações sociais

A parceria entre a EFL e a Sky Bet foi destacada durante a reforma do jogo pelo governo do Reino Unido em abril, sendo citada como um exemplo de acordo socialmente responsável. Desde 2018, o financiamento da Sky Bet tem apoiado o programa EPIC Risk Awareness, fornecendo educação sobre riscos a jogadores e funcionários dos 72 clubes da EFL. Ao abordar as preocupações sobre dependência de jogos, Parry ressaltou a importância de uma abordagem educativa em detrimento de simples punições. Ele reconhece que a proibição não é eficaz e defende uma estrutura que envolva educação contínua para minimizar danos.

A Sky Bet, através de sua controladora Flutter, também demonstrou seu compromisso, destinando US$ 24,7 milhões em 2023 para pesquisas, educação e tratamento. Além disso, a empresa investirá £1 milhão por ano no Building Foundations Fund, apoiando organizações comunitárias associadas aos clubes da EFL. Além disso, periodicamente são eventos como a ‘Semana de Ação EFL’, que destaca os benefícios sociais proporcionados por organizações comunitárias de clubes.

 Erros e acertos

 A posição firme do presidente da EFL em defesa dos patrocínios de apostas no futebol traz à tona um debate complexo que transcende o campo esportivo. Parry argumenta que tais acordos representam uma fonte legítima de justiça financeira, canalizando parte dos lucros exorbitantes da indústria de jogos e apostas de volta ao esporte. Embora essa visão tenha realmente um sentido lógico, não deixa de ser importante tentar entender as opiniões divergentes. Afinal, todo debate tem pelo menos dois pontos de vista sobre uma mesma questão.

A questão central parece não ser apenas sobre as nuances financeiras dos acordos, mas sim sobre o impacto humano dessas parcerias. A dependência de jogos e apostas é uma realidade complexa e que exige atenção, por isso entendo que é uma bola fora do senhor Rick Parry defender uma posição simplista de que esse problema não existe ou está estagnado, como se não vermos o número de casos de pessoas com problemas relacionadas as apostas subir fosse um ponto positivo. O ideal seria que esses problemas nem existissem ou estivessem em queda.

Portanto, ao mesmo tempo em que joga na mesa argumentos válidos, como a necessidade de justiça na distribuição dos lucros obtidos por empresas de apostas com o esporte, Parry se embanana em questões sensíveis, como ignorar o lado negativo da indústria e os problemas que ela pode causar na sociedade. E ignorar questões desse tipo é uma burrice, principalmente dentro de um assunto que se tornou um debate público sobre como desenvolver uma abordagem humanizada para uma indústria de negócios tão impactante.

A verdade é que o debate sobre patrocínios de apostas no futebol está longe de ser encerrado. Cada argumento em favor dessas parcerias deve ser pesado contra o contexto mais amplo de impactos sociais e individuais, e isso certamente não é tão simples. O futebol, como microcosmo da sociedade, enfrenta o desafio de conciliar os benefícios financeiros com a proteção de seus jogadores e fãs. E se encontrar um equilíbrio nesse caso fosse fácil, certamente muitos países já teriam o encontrado. O problema está justamente no ponto em que ninguém jamais chegou nem perto disso.

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Escrito por Sérgio Ricardo Jr