Ministério Público revela esquema de manipulação de resultados na Série B do Brasileirão
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) revelou nesta semana uma grande operação de investigação sobre um suposto esquema de manipulação de resultados que teria acontecido na última edição da Série B do Campeonato Brasileiro. Denominada como “Penalidade Máxima”, a operação policial investiga a participação de diversos atletas e apostadores em um esquema de troca de favores envolvendo apostas esportivas.
Os casos teriam acontecido na última rodada da Série B do Campeonato Brasileiro de 2022. Jogos entre Vila Nova x Sport, Criciúma x Tombense e Sampaio Corrêa x Londrina, segundo a polícia, foram comprometidos por criminosos, que aliciaram jogadores dessas equipes em troca de favores que os beneficiassem em casas de apostas. A principal ação pedida pelos criminosos aos jogadores envolvia o ato de cometer um pênalti ainda no primeiro tempo.
Em dois desses jogos (Criciúma x Tombense e Sampaio Corrêa x Londrina), os pênaltis foram cometidos pelos jogadores Joseph (Tombense) e Matheusinho (Sampaio). Ambos estão sob investigação da polícia por suposto envolvimento no caso. Na partida entre Vila Nova x Sport, o jogador abordado pelos criminosos foi o meia Romário, do Vila Nova, que acabou não sendo relacionado para o jogo e, mesmo assim, teria tentado corromper companheiros. Todos os atletas estão sendo investigados e, se forem considerados culpados, podem responder por associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção em âmbito esportivo.
Confira, abaixo, uma matéria do GE sobre o tema. De acordo com o MP-GO, os jogadores aliciados receberiam 150 mil reais pela manipulação.
Manipulação na Série B: cada jogador receberia R$ 150 mil; veja detalhes do esquema
O promotor de Justiça do Ministério Público de Goiás (MP-GO), Fernando Martins Cesconetto, detalhou nesta terça-feira o esquema de manipulação de resultados envolvendo jogos da Série B do ano passado. O meia Romário, ex-Vila Nova, foi um dos alvos da operação denominada “Penalidade Máxima”. O clube goiano foi o denunciante do caso.
Outro investigado é o lateral Matheusinho, que estava no Sampaio Corrêa e atualmente defende o Cuiabá. Segundo o jornal O Popular, o zagueiro Joseph, do Tombense, também está na mira dos investigadores. Há ainda o volante Gabriel Domingos, do Vila Nova, que teria emprestado a conta bancária para Romário receber o adiantamento do esquema.
Segundo o promotor, o esquema de apostas consistia na marcação de pênaltis ainda no primeiro tempo. Os três jogos suspeitos de manipulação são Vila Nova x Sport, Criciúma x Tombense e Sampaio Corrêa x Londrina, todos válidos pela última rodada da Série B do ano passado.
Destas três partidas, apenas em Vila Nova x Sport não houve a marcação do pênalti, fato que, de acordo com Fernando Cesconetto, impediu o êxito da aposta.
O jogador do Vila passou então, segundo o promotor, a ser cobrado por já ter recebido um sinal no valor de R$ 10 mil. Cada jogador envolvido ganharia ao todo R$ 150 mil no esquema. O prejuízo aos apostadores é estimado em R$ 2 milhões.
– A manipulação consistia em cometer pênaltis sempre no primeiro tempo dos jogos de forma a garantir um elevado ganho financeiro para os apostadores e também para atletas direta ou indiretamente envolvidos. Acontece que para a aposta dar certo, era necessário que os pênaltis ocorressem nos três jogos. Em dois jogos, os pênaltis aconteceram. No caso do jogo do Vila Nova, que é a vítima e denunciante do caso, o pênalti não aconteceu. Isso gerou prejuízo para os apostadores. Estima-se que o prejuízo aos apostadores foi de R$ 2 milhões – disse o promotor, que completou:
– O ganho para cada jogador envolvido seria de R$ 150 mil. Seriam pagos R$ 10 mil adiantados e R$ 140 mil após o êxito. Como no jogo do Vila Nova não houve o pênalti, mas houve o pagamento do sinal (R$ 10 mil) para o jogador envolvido, o apostador passou a cobrar excessivamente o atleta pelo prejuízo causado, já que nos outros jogos houve o pênalti, e os atores envolvidos esperavam receber cada um R$ 150 mil.
O promotor de Justiça afirmou que a investigação ainda será aprofundada. Os envolvidos, sejam eles apostadores ou jogadores envolvidos, podem responder por associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção em âmbito esportivo.
Imperdoável
Nos últimos dias, temos abordado diversas vezes a questão das manipulações de resultados no futebol brasileiro. O que começou de forma amadora se desenvolveu para grandes esquemas de corrupção, envolvendo clubes, atletas, apostadores e empresários. A revelação do esquema de manipulação de resultados na Série B do Brasileirão, feita pelo Ministério Público nesta semana, sendo a competição encarada como do mais alto escalão do futebol brasileiro, talvez seja o ponto mais alto e mais triste da história do esporte brasileiro desde a revelação do caso Máfia do Apito, protagonizado pelo ex-árbitro Edilson Pereira de Carvalho, em 2005.
Não posso dizer que estou surpreso, mas confesso que ainda mantinha algum tipo de esperança em relação a não entender como viável que as manipulações de resultados acontecessem em grandes competições do futebol brasileiro. Entretanto, grandes competições estão atreladas a altos limites e a uma liquidez bastante chamativa aos criminosos que, como revelou o Ministério Público, investiram alto na compra dos atletas.
Realmente entendo que esse tipo de caso é imperdoável para qualquer um dos envolvidos. Como ser humano, sou a favor da ressocialização de pessoas que cometem crimes, desde que paguem o que devem diante da lei. Entretanto, em casos envolvendo esporte, é importante dar um exemplo rígido. Qualquer um dos envolvidos, se considerados culpados, não pode seguir exercendo a atividade como se nada tivesse acontecido. Espero que tudo seja esclarecido e que a operação da polícia seja concluída com sucesso.
Já passou da hora de limparmos o nosso futebol dos criminosos, sejam eles apostadores, dirigentes, clubes ou até mesmo atletas, como nesse caso que veio à tona na Série B do Brasileiro. Lamento pelo esporte e por todos os demais envolvidos nisso, sejam os clubes lesados ou até mesmo os apostadores honestos que haviam investido dinheiro nesses jogos. Todos foram enganados. Realmente não entendo como atletas de alto nível se prestam a isso. Manipulação de resultados no esporte é, sem sombra de dúvidas, imperdoável.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr