O Aston Villa, clube de futebol da Premier League, divisão principal do futebol inglês, enfrenta uma crise de relacionamento com os seus torcedores e a comunidade da cidade Birmingham, local onde fica localizada a sede do clube. Todo esse atrito aconteceu após o Aston Villa bancar um acordo de patrocínio com a casa de apostas BK8, apesar de torcedores e movimentos sociais protestarem contra a relação de parceria.

De acordo com informações divulgadas pela imprensa, a direção do Aston Villa comunicou aos seus torcedores que realizou uma diligência minuciosa em relação às atividades da casa de apostas BK8 e, após isso, resolveu manter a parceria com a empresa de iGaming. A empresa asiática de apostas havia chegado a um acordo com o Aston Villa para se tornar o próximo patrocinador máster do clube, entretanto, após uma sequência de protestos de torcedores, movimentos sociais e cidadãos da cidade de Birmingham, este acordo havia sido suspenso.

Motivação dos protestos

Como temos mostrado em alguns artigos aqui na Casa do Apostador, a Inglaterra tem passado por algumas pressões em relação ao patrocínio de clubes de futebol por parte das casas de apostas. Além desse fator, que passa também por uma pressão social, algumas atitudes da casa de apostas BK8 em ações comerciais recentes causaram revolta em movimentos sociais. A empresa foi acusada de utilizar imagens femininas de forma inapropriada.

Outras organizações se mostraram incomodadas com a presença da BK8 no uniforme do Aston Villa. Algumas instituições de caridade anti-jogo, que cuidam de pessoas com problemas relacionados ao vício em apostas, também se manifestaram contra a parceria entre Aston Villa e BK8. Esses órgãos entendem que o clube de Birmingham é muito forte e, para dar um bom exemplo a comunidade, poderia evitar acordos com casas de apostas e buscar patrocinadores de outras áreas.

Posição do Aston Villa

Após os protestos, um grupo influente de torcedores do Aston Villa, chamado de Fans Consultation Group, afirmaram que Christian Purslow, diretor executivo do clube, se reuniu com eles para acalmá-los em relação aos temores causados pelo acordo. De acordo com o grupo, Purslow afirmou que o Aston Villa voltou atrás na posição de evitar acordos de patrocínio com casas de apostas em decorrência de necessidades financeiras. Segundo o diretor, para clubes do tamanho do Aston Villa, que não fazem parte do big six da Inglaterra, acordos com casas de apostas são duas vezes mais rentáveis do que contratos com outros tipos de empresas.

Essa mudança de posição do clube contribuiu para que os protestos em relação ao acordo com a BK8 se espalhassem. Purslow, na posição de voz do Aston Villa, havia afirmado anteriormente que o clube estaria se afastando de patrocínios envolvendo apostas, algo que agradou torcedores e instituições de caridade anti-jogo, e por isso a manutenção do acordo com a BK8 caiu como uma bomba na cidade de Birmingham.

O silêncio não comete erros

Recentemente, durante uma live do influenciador Casimiro Miguel, considerado um fenômeno brasileiro, ouvi a seguinte frase: “o silêncio não comete erros”. E essa frase ficou gravada na minha cabeça. De fato, em inúmeras situações, não falar é a melhor opção. É óbvio que eu não estou aqui pregando a omissão, principalmente em assuntos importantes, mas em alguns casos é melhor evitar prometer aquilo que não pode ser cumprido.

Acredito que tenha acontecido algo nesse sentido na história envolvendo o Aston Villa e os protestos em relação ao acordo com a BK8. O diretor executivo do clube não precisava declarar a intenção do clube em evitar acordos com casas de apostas, principalmente porque todos nós sabemos a realidade dos acordos de patrocínio envolvendo empresas de iGaming e clubes. Entendo que essas declarações vieram em um momento diferente do atual, mas elas não deixam de ser um problema.

Entendo a posição de todos nesse embate, na realidade. Acho que os torcedores e os movimentos sociais devem sim lutar por aquilo que acreditam, principalmente os movimentos sociais e as organizações anti-jogo, que cuidam diretamente de pessoas com problemas causados pelo mau uso da indústria. Os torcedores também querem sempre o melhor do clube. Faz parte da essência desses grupos lutarem por um ambiente esportivo mais saudável para todos.

Entretanto, eu não coloco o Aston Villa na posição de vilão da história, principalmente por entender as necessidades financeiras do clube. Contudo, algo não pode ser ignorado: a crise foi potencializada pelo diretor executivo do clube, Christian Purslow, que certamente falou mais do que deveria e inflamou as reações ao acordo com a BK8. A empresa de apostas, aliás, não deixa de ter a sua parcela de culpa, principalmente por demonstrar falta de noção em alguns momentos. Diante de tudo isso, fico imaginando que essa crise talvez não existisse se houvesse um pouco mais de sensibilidade de todas as partes. O bom senso, assim como o silêncio, também não comete erros.

Escrito por Sérgio Ricardo Jr