Ex-analista operacional da Bet365 opina sobre desafios e oportunidades do mercado brasileiro
Em amplo crescimento e aguardando a regulamentação do setor, o mercado de apostas esportivas no Brasil segue chamando a atenção do mundo. Em artigo recente, publicado de forma exclusiva pelo site iGaming Brazil (IGB), o ex-analista e revisor de operações da Bet365, Antônio Albe, analisou os desafios e as oportunidades existentes no nosso mercado.
Albe, que foi analista e revisor de operações da Bet365 por 5 anos, atuando diretamente da sede principal da bookie, localizada em Stoke-on-Trent, no Reino Unido, atualmente trabalha de forma dedicada ao mercado da América Latina. O experiente profissional do mercado trouxe, no artigo, alguns pontos que considera cruciais para os operadores europeus em relação ao desenvolvimento do mercado brasileiro.
Confira abaixo, na íntegra, o artigo de Antônio Albe publicado pelo IGB:
Ouro puro: os desafios e oportunidades do Brasil
Apesar dos riscos e incertezas, o maior e mais relevante país da América do Sul apresenta uma grande oportunidade para aqueles que desejam consolidar uma base de clientes ativa antes que a regulamentação entre em jogo.
O Brasil não pode mais ser considerado um gigante adormecido. O maior país da América Latina está definitivamente acordado, porém um pouco abalado e talvez um tanto confuso. Ainda assim, apresenta uma das melhores oportunidades que o setor já viu em muito tempo. Analistas europeus acreditam que o mercado brasileiro pode chegar a US$ 1 bilhão até 2025, e uma parcela significativa desse valor já está disponível e em disputa.
Apesar do enorme valor de mercado e do cenário tecnológico favorável, impulsionado por grandes taxas de cobertura de internet e penetração de smartphones, operadores europeus e americanos ainda hesitam em estabelecer uma posição sólida no país. O ambiente político agitado, as incertezas sobre o futuro das verticais, os enormes desafios apresentados pelo ambiente de negócios no Brasil e a falta de experiência dos stakeholders locais na indústria estão entre as principais causas para tal suspeita.
No entanto, a oportunidade de impulsionar o crescimento global é tão atraente que alguns pesos pesados da indústria já estão em pleno funcionamento no país. Analistas acreditam que os benefícios de ter uma base de clientes ativa e já conhecida quando a regulamentação estiver em vigor compensa todos os riscos impostos pelas incertezas do momento atual. No entanto, a estratégia de desenvolvimento de mercado mais adequada continua a ser um tema central do debate entre os operadores europeus.
A ideia de uma estratégia global, guiada por uma orientação centrada no produto e potencializada pelo fator de escala, contrapõe-se à visão de um plano voltado ao mercado que tem como objetivo principal responder às demandas específicas do mercado de forma rápida e é suportada pelo, constantemente referido, fator de localização e uma maior compreensão das nuances existentes no ambiente Brasileiro,
O tamanho do Brasil e a diversidade do país tornam a decisão ainda mais complicada. Os benefícios inquestionáveis da adoção de uma estratégia focada no mercado podem ser comprometidos pelas enormes diferenças culturais existentes de região para região. Contudo, algumas semelhanças, como o panorama esportivo, os elementos demográficos e a influência da internet no comportamento da sociedade, constituem uma excelente oportunidade para uma abordagem no âmbito nacional.
Além disso, o constantemente referido “generational challenge” enfrentado pela indústria parece ser outro ponto crucial para o sucesso de qualquer iniciativa no país, e, invariavelmente, deve ser ponderado na adoção da estratégia. A falta de atividades legais de jogos de azar no Brasil nos últimos 80 anos tornaram as gerações mais novas uma grande parcela da potencial base de clientes. E, portanto, os operadores não podem se dar ao luxo de negligenciar esse aspecto se almejam atingir os objetivos estabelecidos.
A adaptação de portfólios e implementação de estratégias de marketing desenvolvidas para lidar com tal realidade parecem ser fatores-chaves e pilares fundamentais de qualquer estratégia desenvolvida para o Brasil. Quesitos como estabelecer uma sólida presença nas redes sociais, ofertar Esports, considerar produtos como “micro-betting”, estar atento ao conceito de gamificação, trazer inovações relacionadas a “social betting” e investir em criação de conteúdo e comunicação customizada são premissas não negociáveis.
Adicionalmente, a expertise local e esforços voltados para a construção, armazenamento e compartilhamento do conhecimento são imprescindíveis. Da mesma forma, o entendimento dos sistemas jurídicos e políticos e a uma plena compreensão legal do relacionamento com o consumidor são aspectos chaves para fins de gerenciamento de risco. Conformidade operacional e parcerias estratégicas também devem estar presentes em qualquer discussão pois serão vitais para o gerenciamento de ameaças e a garantia de resultados comerciais favoráveis.
Do ponto de vista pessoal, não tenho dúvidas de que, apesar dos desafios, a oportunidade brasileira pode ser considerada ouro puro, e agora é o melhor momento de explorá-la. Estarei na ICE no próximo mês, à disposição, para quem quiser conversar.
Antônio Albe
Visão estrangeira
O artigo escrito por Antônio Albe traz uma visão bem ampla do mercado brasileiro diante dos olhos estrangeiros. Entre os pontos de destaque da análise do ex-funcionário da Bet365, estão a constatação da visão de que o Brasil é visto como uma grande oportunidade de mercado por parte das empresas europeias e americanas, principalmente por causa da base ativa de clientes que já existe no país antes mesmo da regulamentação.
Outro ponto que chama a atenção no artigo de Albe é a afirmação de que não podemos mais encarar o Brasil como um gigante adormecido. Para ele, e particularmente concordo com a linha de raciocínio, o mercado brasileiro já está ativo e a guerra por espaço e domínio da gigantesca base de clientes já está estabelecida. Não se trata de um território a ser explorado, se trata de um território em exploração.
Além das reflexões a respeito do funcionamento do mercado brasileiro, Antônio Albe jogou luz em algo que outros especialistas já haviam externado ao público em determinadas entrevistas: europeus e americanos temem a instabilidade política do Brasil. Como vimos, nos últimos anos a política se tornou bastante instável no país. Entre impeachments, debates religiosos fervorosos e ameaças de golpe militar, além de constantes mudanças de ideia quanto à regulamentação das apostas, o Brasil se tornou um lugar instável para investimentos.
Por fim, destaco também a reflexão que Albe traz sobre as dificuldades de adaptação que algumas marcas de apostas podem enfrentar ao chegar no mercado brasileiro. Assim como acontece em outras regiões do mundo, o Brasil tem inúmeras particularidades culturais, e isso precisa ser levado em consideração pelos players do mercado. Para concorrer de verdade dentro do mercado brasileiro, as empresas precisam personalizar campanhas, focos, layouts e ofertas e, para o especialista, essas diferenças são um dos principais desafios a enfrentar no mercado nacional.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr