Crítica ao Atraso da Regulamentação das Apostas Esportivas
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Revista Exame critica atraso na regulamentação das apostas esportivas no Brasil
qui 07 jul/22

Revista Exame critica atraso na regulamentação das apostas esportivas no Brasil


Com novos indícios de que a regulamentação das apostas esportivas no Brasil não deve sair neste ano, a Revista Exame, uma das mais conceituadas do país, fez duras críticas ao atraso dos processos de regulamentação das apostas esportivas no Brasil. Em matéria assinada por Caio de Souza Loureiro, Claudio Timm e Jun Makuta na última quarta-feira (06), a revista ressalta os prejuízos de não existir um mercado de apostas esportivas regulamentado até agora, após quatro anos da legalização do segmento no país pelo então presidente Michel Temer. Confira, na íntegra, a matéria da Revista Exame 

Inércia na regulamentação de apostas esportivas traz prejuízo para o país

“Há quase quatro anos, o Brasil instituiu as apostas esportivas de quota fixa como um serviço público. À época, comemorou-se a preocupação do legislador em contemplar uma atividade que já se mostrava relevante mundo afora, com um volume grande de operações, receitas por conseguinte, arrecadação pelos governos.  A caracterização das apostas esportivas como serviço público causou alguma estranheza, é bem verdade, mas ao fazê-lo, a Lei 13.756/18 reafirmou a relevância dessa atividade. Esperava-se, assim, que o prazo de dois anos para a regulamentação da autorização a ser concedida pelo Ministério da Economia fosse uma prioridade. Afinal, não apenas é um serviço público, portanto, de especial interesse, mas se esperava abertamente o benefício advindo da arrecadação tributária.  Contudo, inexplicavelmente, não apenas o prazo original já se esgotou, mas também a prorrogação prevista em lei se avizinha do seu término. Não se sabe por qual razão já se passaram quase quatro anos sem que a regulamentação fosse finalmente feita. E não foi por falta de iniciativas. Nesse período, cogitou-se da estruturação de concessões, com a inclusão do serviço no rol de projetos prioritários do PPI, mandatando-se o BNDES para a estruturação dos contratos. Agora, a última informação que se tem é a da predileção do Governo pelo modelo de autorização, tal qual referido em lei.  A inércia governamental, até aqui, provoca uma dupla perda para o país, sobrelevada em tempos de escassez de recursos e de crise econômica. A regulamentação traz consigo a cobrança de tributos e, por outro lado, ainda permite à União auferir valores de outorga pelas empresas autorizadas. No primeiro caso, estima-se uma arrecadação de mais de R$ 6 bilhões/ano. No segundo, a depender do modelo de autorização adotado, a outorga por autorização pode alcançar quantias significativas.  Esse prejuízo vem sendo constantemente apontado, assim como os riscos ao mercado e à sociedade pela ausência de regulamentação, mas, ainda assim, não foi suficiente para qualquer atitude por parte do governo. Com a proximidade do término do prazo legal para regulamentação, problemas de outra ordem se apresentam.  O transcurso do período de regulamentação sem essa ser realizada enseja um ambiente de insegurança jurídica para o governo, para as empresas do setor e para os usuários, além, é óbvio, da perenização da perda de receita. De início, há a indefinição sobre a possibilidade de as empresas passarem a ofertar os serviços mesmo sem uma regulamentação formal. Afinal, não se está falando de prestação ilegal, porquanto já há autorização em lei para as apostas esportivas de quotas fixas.  Contudo, é inequívoco que as empresas que se dispuserem a prestar os serviços poderão ser questionadas pela ausência de regras formais para a realização das apostas. Nesse contexto, não se descarta o risco de medidas repressoras e sanções, em processos administrativos e judiciais. Por outro lado, é possível cogitar de uma postura mais proativa das empresas, que podem sanear em juízo a ausência de autorização. Especialmente por mandados de injunção ou mesmo em mandado de segurança, caso requerimentos administrativos para autorização sejam denegados pelo Ministério da Economia.  Em qualquer situação, os custos de transação serão altos, seja pela insegurança jurídica, seja pelos esforços empreendidos administrativa e judicialmente. Ao invés de aproveitar os benefícios que a regulamentação traz consigo, a União acabaria arcando com os prejuízos da sua própria inércia.  Donde se vê que, sob quaisquer ângulos, abdicar da regulamentação coloca o país fora de um mercado global, onde o movimento é, justamente, no sentido contrário. Não apenas na Europa e nos EUA (onde a discussão da regulamentação é cada vez mais vívida), mas também na América Latina, em países como México e Colômbia, além da cidade e província de Buenos Aires, já há regras formais e claras para a realização das apostas esportivas. A negativa injustificada em regulamentar algo já previsto em lei relega o Brasil a uma condição desvantajosa, impedindo que se usufrua dos recursos arrecadados e, tanto pior, alimentando um mercado informal, com todos os prejuízos a ele acessórios.  Ainda há tempo de evitar esse cenário (mais) desastroso. Sabe-se que a regulamentação já foi suficientemente discutida no âmbito do Ministério da Economia, o que permite sua efetivação mesmo nos poucos meses restantes até o término do prazo legal. A edição do decreto é o último ato faltante e nada obsta que seja finalmente colocado em prática.”

Escrito por Caio de Souza Loureiro, Claudio Timm e Jun Makuta

 

Descaso

 A matéria da Revista Exame, muito bem escrita por Caio de Souza Loureiro, Claudio Timm e Jun Makuta, diga-se de passagem, é mais uma constatação pública do completo descaso do Governo Federal com as apostas esportivas no Brasil. Adianto que matérias como essa, da Exame, serão comuns durante todos os próximos meses. É realmente inacreditável que após quatro anos da legalização das apostas esportivas no Brasil praticamente nada tenha mudado.  O texto da Exame foi bastante feliz ao relembrar a quebra de expectativas que foram criadas no surpreendente movimento do então presidente Michel Temer, em 2018, ao legalizar as apostas no país. Naquele momento, ninguém esperava esse movimento, mas Temer resolveu fomentar esse mercado o legalizando e dando um prazo suficiente para que o Ministério da Economia pudesse estudar uma forma justa de regulamentação. Todos criaram uma expectativa boa de ver o Brasil como um grande centro das apostas esportivas no mundo, mas nada disso foi adiante. O Brasil cresceu dentro do mercado, talvez até mesmo impulsionado por essa esperança de mercado regulamentado, foi capaz de atrair inúmeras grandes empresas do ramo, mas quatro anos depois a situação segue mais indefinida do que nunca. Caio, Claudio e Jun apontaram na sua matéria que os atrasos na regulamentação das apostas esportivas no Brasil são inexplicáveis. Eu diria que, talvez, os escritores tenham utilizado o termo errado. O atraso é explicável. Aliás, é totalmente explicável. O debate se tornou político. E disso ninguém tem dúvida. Talvez a melhor definição para descrever tanto descaso e má vontade por parte do Governo Federal com a situação das apostas esportivas no Brasil seja injustificável.  

Escrito por Sérgio Ricardo Jr

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