Campanhas extremas no início da temporada na NFL
Na semana passada (leia aqui), forneci algumas reflexões sobre as duas primeiras semanas da temporada da NFL. Esta semana, teoricamente, era para eu ter iniciado uma série sobre estatísticas nos três principais esportes americanos: quais utilizar e quais não são boas o bastante para contextualizar os jogos. No entanto, esse tipo de material, assim como minha série anterior sobre identificar fraudes, exige um pouco de inspiração, algo que me faltou nas últimas semanas. Por isso, resolvi examinar a NFL novamente. Nesta coluna, quero me concentrar principalmente nos extremos: os times ainda invictos após três semanas e as equipes que começaram 0-3.
Atualmente, 37,5% das equipes da NFL atendem a esse critério: seis ainda invictas e outras seis ainda sem vitória na temporada. Os extremos estão bem maiores nesta temporada, já que no último ano apenas oito times se encaixavam no critério, sendo cinco invictos e três zerados após três semanas de temporada em 2024. Dos cinco que iniciaram 3-0 na temporada passada, apenas o Seattle Seahawks não foi aos playoffs, enquanto nenhum dos três que estavam sem vitórias conseguiu chegar à pós-temporada.
Ainda é cedo, mas começos extremos aumentam ou reduzem muito as chances de classificação. Historicamente, equipes 0-3 chegaram aos playoffs apenas em 2,5% das vezes — uma má notícia para New York Jets, Miami Dolphins, Houston Texans, Tennessee Titans, New York Giants e New Orleans Saints. Times 3-0, por sua vez, possuem 74% de chance de avançar, o que é um bom presságio para Buffalo Bills, Indianapolis Colts, Los Angeles Chargers, Philadelphia Eagles, Tampa Bay Buccaneers e San Francisco 49ers.
A partir daqui, vou analisar rapidamente os times que começaram nos extremos — seja de forma positiva ou negativa. Afinal, será que todos os invictos realmente jogaram como tal? Ou que todas as equipes 0-3 foram de fato dominadas pelos rivais? A resposta curta é: não. Apesar do impacto dessas sequências iniciais nas projeções de playoffs, a amostra ainda é pequena, apenas três jogos. E, olhando de perto, alguns invictos não parecem tão convincentes quanto o recorde sugere.
Os invictos
Buffalo Bills
Os Bills, que apontei como fraude no ano passado e como possível decepção para este, seguem determinados a provar que estou errado. Buffalo não é uma equipe ruim, longe disso, mas a tabela até aqui não foi muito desafiadora, com exceção da estreia contra os Baltimore Ravens — partida em que foram amplamente dominados. Porém, como sempre, contaram com imensa sorte e acabaram vencendo.
Duas das vitórias dos Bills vieram contra times que ainda não venceram na temporada (Jets e Dolphins). No total, os oponentes de Buffalo somam campanha de apenas 1-8 até o momento. A equipe também continua com sorte em turnovers: são três recuperados e nenhum concedido em três partidas. A interceptação contra Tua Tagovailoa, na semana 3, foi mérito da defesa, mas os fumbles recuperados nos dois primeiros jogos parecem muito mais fruto de aleatoriedade do que de talento real, como já discuti em artigos anteriores.
Apesar da concorrência fraca, os Bills exibem a pior defesa da liga contra o jogo terrestre, permitindo média de 6,2 jardas por tentativa. Parte significativa desse número veio da estreia contra o ataque terrestre de elite dos Ravens, mas contra os Dolphins, na semana 3, Buffalo também teve problemas, cedendo 130 jardas e média de 5,2 jardas por tentativa. A tabela seguirá fácil por algum tempo, mas insisto: embora sejam uma boa equipe, os Bills ainda não parecem um time de elite, principalmente pela fragilidade defensiva.
Indianapolis Colts
Apontei os Colts como possível surpresa para esta temporada em artigo anterior e, até agora, a equipe tem sido a maior surpresa das três primeiras semanas. Daniel Jones, longe do ambiente disfuncional dos New York Giants, tem jogado em nível excepcional. Com Jonathan Taylor, Indianapolis também apresentou um ataque terrestre de elite.
A defesa, no entanto, ainda não foi devidamente testada, já que os Colts enfrentaram três ataques limitados. O setor foi bem contra o passe, mas mostrou fragilidades na contenção ao jogo terrestre. Por isso, apesar do início surpreendente, é preciso cautela antes de considerar os Colts como um real contender.
Los Angeles Chargers
Dos times invictos, os Chargers foram um dos mais consistentes nas três primeiras semanas, apresentando um forte ataque aéreo e uma defesa de elite. A vitória contra os Chiefs, na estreia no Brasil, já não parece tão espetacular, considerando os problemas que Kansas City mostrou nas partidas seguintes. Já o triunfo da semana 3, contra os Broncos, foi bastante apertado, e os Chargers poderiam facilmente ter saído derrotados. Ainda assim, nada nos números construídos pela equipe neste início de temporada sugere que se trate de uma fraude.
Philadelphia Eagles
Atuais campeões do Super Bowl, os Eagles iniciaram a temporada da melhor forma possível, vencendo as suas três primeiras partidas. No entanto, além dos resultados, a equipe não impressionou tanto em campo, mostrando fragilidades em aspectos que antes eram os seus pontos fortes.
Saquon Barkley, vindo da melhor temporada da carreira, ainda não deslanchou, e o time produziu média de apenas 3,7 jardas por tentativa de corrida — bem distante das 4,9 da última temporada. Na defesa, a pressão sobre quarterbacks adversários praticamente sumiu: foram apenas três sacks em três jogos. O front seven também mostrou vulnerabilidade contra o jogo terrestre, cedendo média de 5,1 jardas por tentativa — a 6ª pior marca da liga.
A vitória contra os Cowboys, na estreia, foi merecida, embora com mais dificuldades do que o esperado contra um rival que depois se mostrou disfuncional. Já os triunfos sobre Chiefs e, principalmente, sobre Rams, vieram em circunstâncias atípicas. Nos números puros, os Eagles foram superados em média de jardas por jogada: 5,2 a 3,7 contra os Chiefs e 5,4 a 4,6 contra os Rams. Entre os times 3-0, os Eagles despontam como a principal fraude, com base nos dados construídos até aqui.
Tampa Bay Buccaneers
Diferente dos Eagles — adversários de Tampa Bay na semana 04 —, as três vitórias dos Buccaneers foram legítimas, ainda que contra adversários menos expressivos do que os enfrentados por Philadelphia.
O que preocupa na equipe é o excesso de baixas no elenco. O left tackle Tristan Wirfs desfalcou o time nas três primeiras semanas e tem retorno incerto para a semana 04. A linha ofensiva também perdeu o guard Cody Mauch e o right tackle Luke Goedeke: Mauch está fora da temporada, enquanto Goedeke deve seguir ausente por algumas semanas.
No ataque, o wide receiver Mike Evans, um dos mais consistentes da liga em sua posição, se lesionou durante a vitória da semana 03 e ficará afastado por um período. Na defesa, os Buccaneers perderam o defensive end Calijah Kancey, o que reduziu a profundidade da linha defensiva.
Lesões em grupo — especialmente na linha ofensiva — costumam ser bastante prejudiciais, portanto vale acompanhar de perto o desempenho da equipe nas próximas rodadas.
San Francisco 49ers
Uma das maiores decepções da última temporada, quando terminaram com campanha de 6-11 após terem chegado ao Super Bowl no ano anterior, os 49ers — que sofreram com lesões em 2024 — voltam a enfrentar um surto de contusões. Até o momento, porém, as ausências não afetaram tanto a produção da equipe, que venceu as suas três primeiras partidas da temporada, ainda que com dificuldades em todas elas.
O jogo terrestre, antes um ponto forte, não tem funcionado tão bem, mas a defesa, mesmo com muitas caras novas, apresentou bom nível nas três primeiras semanas. O quarterback Brock Purdy, que perdeu os dois últimos jogos, deve retornar nesta semana, mas a defesa não contará com Nick Bosa, enquanto o ataque segue desfalcado do tight end George Kittle.
As vitórias de San Francisco, em geral, vieram contra concorrência fraca, então um pouco de ceticismo será necessário na hora de analisar os confrontos futuros.
Ainda em busca da primeira vitória
New York Jets
A tabela dos Jets foi bastante difícil até aqui, com confrontos contra Steelers, Bills e Buccaneers — todos com campanhas vitoriosas, sendo dois deles ainda invictos. New York manteve um nível aceitável nos jogos contra Steelers e Buccaneers, mas sofreu um blowout contra os Bills, perdendo por 30 a 10.
Justin Fields, com uma concussão, desfalcou a equipe no último jogo, mas deve retornar em breve. A defesa, com exceção da partida contra os Bills, apresentou bom nível até o momento, mas a baixa produção do ataque aéreo limitou o rendimento geral da equipe.
É improvável que os Jets construam uma campanha vitoriosa nesta temporada. Contudo, entre os times atualmente 0-3, foram um dos mais competitivos, vendendo caro a maioria de suas derrotas.
Miami Dolphins
Jets e Dolphins, que são rivais de divisão, se enfrentarão no Monday Night Football da semana 04. Assim, exceto por um improvável empate, uma dessas equipes conquistará a sua primeira vitória da temporada.
Os Dolphins pareceram mais problemáticos do que os Jets nas três primeiras semanas, embora tenham sido mais competitivos contra os Bills do que a equipe de New York. Miami vive uma crise interna, com risco de demissão do head coach Mike McDaniel, e sofreu com turnovers no ataque. Ainda assim, com 97 pontos permitidos em três jogos, a defesa foi o principal problema da equipe até aqui.
É possível que o ataque encontre o ritmo em algum momento, já que o elenco possui bons nomes no setor ofensivo, mas uma melhora significativa da defesa parece improvável neste ponto.
Houston Texans
Talvez a maior surpresa entre as equipes 0-3, os Texans — que conquistaram a divisão no ano passado e fizeram uma partida bastante disputada contra os Kansas City Chiefs nos playoffs, após eliminarem os Los Angeles Chargers na rodada de wild card — foram uma enorme decepção neste início de temporada.
A defesa tem sido tão boa quanto no ano passado, limitando os adversários a um total de apenas 51 pontos em três partidas. O ataque, porém, agora comandado pelo coordenador Nick Caley, tem se saído ainda pior do que na última temporada.
A tabela não foi das mais fáceis neste início, com duas das três primeiras partidas disputadas fora de casa, então a equipe não parece completamente condenada. No entanto, uma melhora ofensiva será necessária se os Texans quiserem brigar pelo título da divisão novamente, especialmente porque Indianapolis Colts e, em menor grau, os Jacksonville Jaguars, parecem fortalecidos em relação ao ano passado.
Tennessee Titans
Este é um ano de transição para os Titans, que tiveram a 1ª escolha geral do último draft e selecionaram o quarterback Cam Ward. Embora não aspirem grandes conquistas nesta temporada, os Titans foram pouco competitivos em seus três primeiros jogos, com a linha ofensiva falhando em proteger Ward e a defesa incapaz de conter os adversários, tanto contra o passe quanto contra a corrida.
O início foi tão ruim que a equipe já promoveu algumas mudanças, com o head coach Brian Callahan delegando a função de playcaller do ataque para o técnico de quarterbacks, Bo Hardegree. Talvez a mudança traga alguma melhoria ofensiva, mas os Titans foram tão mal nas três primeiras partidas que é improvável que evoluam o suficiente ao longo do ano.
New York Giants
Os Giants optaram por manter o bastante questionado head coach Brian Daboll por mais um ano, decisão que tem se provado equivocada com o início 0-3 da equipe. A defesa, embora tenha recebido reforços, apresentou pouco progresso em relação à última temporada, enquanto o ataque, que agora contará com o novato Jaxson Dart como quarterback — com Russell Wilson sendo colocado no banco após apenas três partidas — parece tão disfuncional quanto foi no ano passado, quando quatro quarterbacks diferentes iniciaram ao menos um jogo, combinando para um rating de 77,8.
No papel, os Giants são um pouco mais talentosos do que algumas das outras equipes 0-3, mas em campo fizeram jus à campanha sem vitórias até o momento na NFL.
New Orleans Saints
Outra equipe em ano de transição, os Saints têm um elenco envelhecido, mas contam com um jovem head coach, Kellen Moore. A equipe foi competitiva em suas duas primeiras partidas em casa na NFL, embora não tenha conseguido cobrir nenhum handicap. Já fora de casa, contra os Seahawks, sofreu uma derrota arrasadora por 44 a 13.
Com um duelo contra os Bills pela frente, é bem provável que os Saints cheguem a 0-4 ao final da semana 04. Diante do pouco talento disponível no elenco, a expectativa é de que permaneçam entre os piores times da liga durante toda a temporada da NFL.
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