Estudo do Reino Unido analisa resultados da proibição dos cartões de crédito nas apostas
Em abril de 2020, o Reino Unido fez história ao se tornar o primeiro país a proibir completamente o uso de cartões de crédito nas apostas, tanto online quanto em estabelecimentos físicos. Passados mais de quatro anos desde a implementação dessa medida, o Centro Nacional de Pesquisa Social da região conduziu um estudo para avaliar o impacto dessa proibição no comportamento dos consumidores.
De acordo com informações do site Gambling News, o relatório recente revela que a proibição foi amplamente percebida como uma mudança positiva. Jogadores, familiares e provedores de suporte reconheceram a importância da medida, com muitos afirmando que compreendem sua necessidade. No entanto, a eficácia da proibição tem sido objeto de debate.
Embora a iniciativa tenha sido vista de maneira favorável, o estudo identificou que a proibição não foi abrangente o suficiente, uma vez que não abrangeu todas as formas de empréstimo de dinheiro. Instituições de caridade e organizações de suporte alertam que alguns jogadores problemáticos recorreram a outras fontes de crédito, dificultando o controle sobre seus gastos. A pesquisa indicou que o aumento do atrito, causado pela proibição, não alterou significativamente os hábitos de jogo de todos os consumidores e alguns jogadores continuaram a buscar alternativas para financiar suas apostas.
A conscientização sobre a proibição também variou entre diferentes grupos de risco. Cerca de 57% das pessoas com risco moderado ou alto de desenvolver problemas com jogos de azar estavam cientes da proibição, enquanto apenas 29% daqueles com baixos níveis de envolvimento problemático conheciam a medida. Entre os não jogadores, a conscientização foi ainda menor, com apenas 11% tendo conhecimento da proibição.
Para disseminar a informação, diversos canais foram utilizados, incluindo mídias sociais, mensagens pop-up e e-mails enviados por empresas de jogos e apostas. Apesar disso, alguns entrevistados sugeriram que uma abordagem de comunicação mais segmentada poderia ter melhorado a eficácia da conscientização. Além disso, um estudo paralelo realizado pelo mesmo centro de pesquisa para a organização GambleAware revelou um problema social mais amplo: comunidades marginalizadas frequentemente recorrem ao jogo como uma forma de lidar com a exclusão social e problemas como discriminação, questões de saúde mental e solidão.
Como melhorar?
Os resultados do estudo sobre a proibição do uso de cartões de crédito para apostas no Reino Unido, quatro anos após sua implementação, nos oferecem uma reflexão importante: até que ponto essas medidas são realmente eficazes? Apesar de amplamente vistas como uma mudança positiva, as descobertas mostram que a proibição não conseguiu atingir de forma clara os seus objetivos. Há diversos relatos de brechas que permaneceram abertas, com apostadores problemáticos recorrendo a outras formas de crédito para financiar suas apostas, o que enfraquece a efetividade da medida.
Essas falhas não significam, de forma alguma, que a proibição deveria ser revogada. Pelo contrário, elas revelam a complexidade do comportamento humano diante das regras impostas e a necessidade de políticas mais abrangentes e detalhadas. A mídia local tem apontado para essas inconsistências como um sinal de que a proibição, embora bem-intencionada, precisa ser reavaliada e possivelmente complementada com outras estratégias.
O estudo também destaca a desigualdade na conscientização sobre a proibição, que varia consideravelmente entre os diferentes grupos de risco. Isso sugere que a comunicação sobre essas políticas precisa ser mais eficaz e direcionada para alcançar todos os públicos de maneira adequada. A falta de conscientização adequada pode, em última análise, limitar a eficácia de qualquer medida regulamentar.
Portanto, ao analisarmos esses resultados inconsistentes, a verdadeira questão que emerge não é se a proibição de cartões de crédito deve ser mantida ou eliminada, mas como isso pode ser aperfeiçoado. Os governantes e formuladores de políticas têm agora a tarefa de considerar essas lacunas e trabalhar em soluções mais abrangentes e integradas para proteger os consumidores de maneira eficaz. Esta é uma conversa que, sem dúvida, voltaremos a ter em outro momento. Afinal, a proteção dos consumidores e a mitigação dos riscos intrínsecos as apostas devem estar no centro de qualquer política pública bem-sucedida.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr