A Federação Internacional de Automobilismo (FIA), organização responsável pelo comando da principal categoria de automobilismo do mundo, a Fórmula 1, anunciou na última semana a inclusão da cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, como mais uma a receber uma etapa do Mundial de Fórmula 1 em 2023. A chegada do Grande Prêmio (GP) de Las Vegas marca um novo momento da Fórmula 1, que agora passa a ter três corridas realizadas nos EUA por temporada.

A chegada da corrida noturna de Las Vegas, programada para acontecer pela primeira vez em meados do mês de novembro de 2023, marca a posição forte da empresa Liberty Media como gestora da categoria mais famosa do automobilismo. A Liberty, que enxerga com bons olhos a aproximação da Fórmula 1 com os Estados Unidos, conseguiu incluir, com Las Vegas, três corridas no calendário esportivo da F1 por ano, sendo eles o GP de Austin, no Texas – conhecido também como GP dos Estados Unidos – e o GP de Miami, que acontece na Flórida.

Todos estão animados

Presidente e CEO da Liberty Media, Greg Maffei falou sobre a inclusão do novo GP no calendário da Fórmula 1. “A icônica Las Vegas e a Fórmula 1, o auge do automobilismo, é o casamento perfeito de velocidade e glamour. Nossa confiança nesta oportunidade única é evidente em nossa decisão de assumir o papel de promotor do Grande Prêmio de Las Vegas em parceria com a Live Nation. Não poderíamos estar mais animados para trabalhar com nossos parceiros locais para criar um evento de destaque. O potencial da Fórmula 1 foi bem demonstrado nas últimas temporadas, e o GP de Las Vegas só a levará ao próximo nível”, disse Greg.

Nome famoso no automobilismo e atual presidente e CEO da Fórmula 1, Stefano Domenicali agradeceu a oportunidade de correr em uma cidade como Las Vegas. “Este é um momento incrível para a Fórmula 1, que demonstra o enorme apelo e crescimento do nosso esporte com uma terceira corrida nos EUA. Las Vegas é um destino conhecido em todo o mundo por sua emoção, hospitalidade e emoções. Não há lugar melhor para a Fórmula 1 correr do que na capital global do entretenimento do mundo e mal podemos esperar para estar aqui no próximo ano.”, declarou Stefano.

Apesar da felicidade geral pelo acordo de trazer a Fórmula 1 para Las Vegas, essa não será a primeira vez que uma corrida da categoria acontecerá na cidade icônica das apostas, dos jogos e do entretenimento. Entre os anos de 1981 e 1982, a Fórmula 1 correu em Vegas, mas não esteve no centro mais famoso da região, a Las Vegas Strip, avenida mundialmente conhecida pela presença de hotéis e cassinos luxuosos. A partir de 2023, a categoria correrá à noite em uma pista de rua, com extensão de 6,12km e velocidade máxima de 342km/h. Ao todo, serão três retas e 14 curvas.

Pilotos aprovaram

Quem parece ter gostado bastante da ideia de ir a Vegas foram os pilotos atuais do grid da Fórmula 1. Em um vídeo divulgado nas redes sociais da categoria, a Liberty Media revelou a reação dos pilotos ao serem informados da novidade. “Vai ser épico”, disse Valtteri Bottas. “Vai ser um evento bastante hardcore”, afirmou Lewis Hamilton. Já o francês Pierre Gasly acredita que correr em Vegas vai ser uma experiência insana.

Piloto da Williams, Nicholas Latifi afirmou que “vai ser mais divertido para os membros das equipes do que para os pilotos” e o tetracampeão Sebastian Vettel mostrou-se preocupado com a gastação dos companheiros nos cassinos americanos. “Tenho certeza de que alguns pilotos irão gastar algum dinheiro nos cassinos e torcerão para ganhar de volta no domingo”, apontou Vettel.

Las Vegas e os jogos

Tanta animação dos pilotos, das equipes e também da Fórmula 1 por Vegas tem um motivo: a icônica cidade dos jogos. Em Vegas, considerada uma cidade símbolo das apostas e do entretenimento glamourizado, tudo acontece. A cidade é a mais populosa e mais densamente povoada do estado americano de Nevada e foi fundada em 1905, tornando-se oficialmente uma cidade em 1911. A região é famosa em todo mundo pela grandiosidade dos seus hotéis luxuosos e cassinos, que impulsionam o turismo local e, a partir de 2023, receberão também um Grande Prêmio de Fórmula 1.

A desconstrução da Fórmula 1

Enxergar a Fórmula 1 como um produto foi difícil para os antigos donos do gerenciamento da categoria. Os assentos mais visados do automobilismo mundial (grid) sempre conviveram bem com o dinheiro, visto que o automobilismo talvez seja o esporte mais elitista entre todos os que existem. Nunca faltou grana, nem patrocínio ou nada que colocasse o futuro da categoria em risco. O que faltava era carisma.

A Fórmula 1 nunca foi carismática. O esporte, pelo esporte, não atrai quase ninguém. O que sempre foi determinante para que as pessoas que não estão envolvidas diretamente com a composição do grid se interessassem pelas corridas foi a presença de pilotos icônicos, carismáticos ou absurdamente bons. Sempre foram eles os responsáveis por fazer de um esporte tradicional, elitista e antipático algo verdadeiramente cativante.

A atual gestão da Liberty Media veio como uma explosão de tinta colorida em um quadro preto e branco. A Fórmula 1 estava cada vez mais chata e envelhecida. Com abordagens novas e aproveitando o potencial de tudo que tinha em mãos, a empresa elevou o nível da categoria de automobilismo mais amada pelos brasileiros, principalmente por aqueles que vivenciaram o fenômeno Ayrton Senna. O esporte se desconstruiu.

É muito promissor entender que a expansão da Fórmula 1 é constante e começa a abrigar um setor tão gigantesco como as apostas e os jogos. Recentemente, noticiamos a parceria de equipes de Fórmula 1 com casas de apostas e agora veio também a inclusão de Las Vegas no calendário. A categoria ranzinza, robótica e engessada, muitas vezes até exclusivista, parece agora se tornar um produto de proporções inimagináveis.

Escrito por Sérgio Ricardo Jr.