Diretor do Banco Central se mostra contrário a proibição do Pix nas apostas
O diretor de Organização do Sistema Financeiro e Resolução do Banco Central, Renato Gomes, se posicionou na última semana contra a proposta de proibir o uso do Pix em transações de apostas. Durante uma palestra em Washington, nos Estados Unidos, Gomes argumentou que essa restrição poderia comprometer a agenda digital do Brasil, uma vez que o Pix se consolidou como um meio de pagamento barato e acessível, beneficiando os consumidores no dia a dia.
Para o diretor do Banco Central, limitar o uso do Pix especificamente para apostas é complexo e pode gerar problemas operacionais significativos. “Criar problemas operacionais complicados para evitar o uso do Pix em alguns gastos e em outros não, pode ser algo contraprodutivo no fim”, comentou ele, destacando os desafios de implementação de uma medida desse tipo.
A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) já havia manifestado preocupação quanto ao aumento do uso do crédito e do Pix em apostas. Segundo a entidade, essa tendência pode expor consumidores a maiores riscos de endividamento, dado o crescimento no número de transações realizadas para esse fim.
Gomes ressaltou, no entanto, que a função do Banco Central não é regular diretamente o setor de apostas, mas sim monitorar o impacto desse mercado sobre a estabilidade financeira e o uso de meios de pagamento. Ele sublinhou que a instituição acompanha o comportamento dos consumidores no contexto das transações financeiras para mitigar riscos sistêmicos.
Além disso, o diretor mencionou que o Banco Central está em diálogo com outros países da América Latina para promover a integração de sistemas de pagamento rápido semelhantes ao Pix. Segundo ele, alguns países já estudam implantar ferramentas de pagamento instantâneo, e a perspectiva é que, no futuro, essas plataformas possam ser conectadas entre si, ampliando a eficiência dos serviços financeiros na região.
Placebo
A proposta de proibir o uso do Pix em transações de apostas parece, de fato, uma medida mais simbólica do que efetiva, como bem apontou o diretor do Banco Central, Renato Gomes. Afinal, bloquear um meio de pagamento em vez de tratar a raiz da questão do endividamento e da exposição ao risco não resolve o problema, apenas o contorna superficialmente. O Pix veio para facilitar o acesso a um sistema financeiro mais ágil e barato, um avanço que beneficia a sociedade em vários aspectos.
Restringir o Pix especificamente para apostas soa como um efeito placebo: gera a sensação de controle sem enfrentar de fato as causas do endividamento. O argumento de que esse bloqueio protegeria os consumidores do risco de dívidas nas apostas ignora que existem outras formas de realizar essas transações. Caso o Pix fosse proibido, nada impediria os usuários de recorrerem a outros métodos de pagamento, que podem ser mais caros e até mais difíceis de monitorar.
A verdadeira solução passa por uma regulamentação mais abrangente e eficaz do setor de apostas e pela educação financeira dos usuários, para que possam tomar decisões conscientes sobre o uso de suas finanças. No fim das contas, investir na educação financeira específica para o setor de apostas seria mais produtivo do que impor restrições arbitrárias ao Pix. Na minha opinião, inclusive, tal proibição aumentaria ainda mais os gastos com apostas, visto que a dificuldade de depósito poderia ocasionar uma carga de injeção financeira mais elevada nas plataformas de apostas.
Escrito por Sérgio Ricardo Jr.