A falta de conhecimento da regra por parte dos árbitros
Há algum tempo abordamos os erros absurdos que os juízes laterais cometem, alterando significamente o resultado das lutas. Nos últimos meses, porém, quem tem tomado o protagonismo dos lutadores são outros árbitros: os centrais. Vamos passar por casos absurdos que aconteceram e qual deveria ter sido a conduta dos juízes. Eu possuía apostas em 3 dos 4 casos que vamos abordar: uma me favoreceu, uma me prejudicou e a outra foi corrigida a tempo e meu red virou void.
Começando pelo mais absurdo deles, o único em um evento de menor porte que abordaremos. Na luta principal do Fury FC no dia 25 de março, Edgar Chairez finalizou Gianni Velasquez. O problema é que Velasquez literalmente dormiu com o triângulo aplicado pelo adversário e o árbitro Frank Collazo não percebeu. Chairez, não percebendo (e não recebendo os três tapinhas, nem a interrupção do árbitro) que o adversário estava desacordado, fez a transição para uma chave de braço e com isso sofreu uma grave lesão no ombro.
O Fury FC se pronunciou nas redes sociais: “É função do árbitro proteger o lutador quando o lutador não pode se proteger. Na luta principal da noite passada, o árbitro falhou em fazer isso. Embora o trabalho de um árbitro seja um dos mais difíceis de fazer neste esporte, a necessidade de treinamento adequado e contínuo ajudaria a aliviar coisas como esse incidente. Não contratamos, treinamos ou selecionamos árbitros para nossos shows, mas estaríamos mais do que dispostos a liderar uma reformulação e revisão do processo de seleção e treinamento de arbitragem e julgamento”.
Também em março, Raphael Assunção enfrentou Davey Grant pelo UFC. Raphael venceu os dois primeiros rounds e bastava sobreviver ao 3º e último round para levar a luta por decisão. Após sofrer alguns golpes e ficar grogue, Raphael conseguiu uma queda, e por lá parecia que iria ficar até o final. E foi aí que a arbitragem errou: Davey Grant aplicou um golpe ilegal em Raphael, e o árbitro Keith Peterson parou a luta para retirar um ponto do atleta americano, ponto que não faria diferença, pois ele já estava atrás na pontuação. A regra diz que se um atleta comete um golpe ilegal enquanto o adversário tem posição de dominância, a luta deve ser retornada da mesma posição. Não foi o que o árbitro fez: Grant foi premiado com a luta de volta em pé, acertou mais bons golpes em Raphael Assunção, e finalizou o brasileiro faltando apenas 17 segundos para o fim da luta. Raphael se aposentou após o confronto.
Um caso semelhante ocorreu no UFC dia 13 de maio, apesar de não ter ocorrido nenhuma finalização. Dessa vez o premiado foi o brasileiro Douglas Silva de Andrade, que aplicou um golpe ilegal em Cody Stamann após ser derrubado, e teve a luta colocada de volta em pé. Nesse caso, Douglas nem pontos perdeu, apenas foi premiado pelo golpe ilegal. Com isso, impediu a virada que estava desenhada no primeiro round, e venceu por 29-28 (2 rounds a 1). O árbitro era Wayne Spinola.
No mesmo final de semana tivemos uma arbitragem desastrosa também no Bellator 296, dia 12 de maio. Saul Rogers parecia ter encaixado uma finalização em Davy Gallon, mas visivelmente Gallon estava se defendendo e bem acordado. O árbitro Jacob Montalvo simplesmente decretou o fim da luta, supondo (não sabemos o motivo) que Gallon estava desacordado. O replay desmentiu o árbitro, que mesmo assim declarou a vitória para Saul Rogers. Por sorte, a comissão analisou a tempo o replay e o resultado foi alterado para “No-Contest”, ou seja, luta sem resultado. As casas de apostas corrigiram o resultado, com justiça.
Precisamos de uma reformulação enorme na arbitragem se queremos que o esporte continue crescendo. Árbitros precisam saber ao menos o básico da regra: não se premia um lutador que está por baixo e aplicou um golpe ilegal. Não se supõe que um lutador está desacordado, e não se supõe que ele ainda está acordado. É necessário checar para evitar ainda mais injustiças no MMA.
Escrito por Raphael Brettas