COI atua em conjunto com casas de apostas na proteção da integridade esportiva

O Comitê Olímpico Internacional (COI), responsável por organizar e administrar os jogos olímpicos, tem atuado de forma conjunta com diversas casas de apostas do mundo inteiro para proteger a integridade esportiva. O movimento, que tem sido feito há algum tempo e se intensificou antes da edição dos Jogos Olímpicos de Inverno que aconteceu em 2018, na Coreia, visa proteger os jogos e os atletas do avanço do mercado das apostas esportivas pelo planeta.
A expansão da indústria de apostas esportivas é vista pelo COI como algo que pode ajudar atletas e os jogos, mas também como um risco, visto que os montantes de dinheiro envolvidos em cada competição são cada vez maiores e podem gerar problemas. Nesse sentido, o órgão entendeu a necessidade de atuar em conjunto com a indústria das apostas para reforçar a segurança desse segmento e fazê-lo ser um parceiro do esporte.
O ritmo acelerado do crescimento do mercado de apostas esportivas tem feito com que mercados recém licenciados em países como os Estados Unidos, por exemplo, estejam quebrando recordes de arrecadação tributária e movimentação de dinheiro mensalmente. Com tamanhas expectativas e munidos de dados concretos de expansão do mercado, encontrar meios e mecanismos de proteção ao esporte tornou-se uma necessidade impreterível.
Reforço no monitoramento
Além da cooperação e do trabalho realizado em conjunto com as casas de apostas, que também tem muito interesse na manutenção da integridade do esporte, o COI tem feito movimentos para acompanhar com mais atenção a crescente do mercado de apostas esportivas e reforçar com confederações, clubes e atletas os preceitos básicos que conduzem a conduta de um esportista.
Todos esses movimentos têm sempre um mesmo objetivo: proteger a integridade do mundo olímpico. Líder de engajamento do COI junto aos Comitês Olímpicos Nacionais, Lenny Abbey, que representou o COI durante o Congresso Olímpico Brasileiro, promovido pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) na cidade de Salvador (Bahia), declarou ao GE.com que as apostas estão crescendo e que essa área tem sido monitorada pelo COI.
Apostas e doping
Na mesma entrevista, concedida ao GE.com, Abbey revelou que as pesquisas do COI estão sendo realizadas para assegurar um jogo limpo e manter a integridade esportiva dos jogos, além de ter levantado a pauta de que podem estar existindo esquemas ilegais que envolvem doping e apostas esportivas. Ou seja, atletas estariam sendo dopados para aumentar o rendimento e favorecer grupos de apostadores criminosos.
“O mercado de apostas está virando um problema maior que o antidoping. Estão crescendo cada vez mais. E é uma área que até recentemente não estávamos dando atenção.”, disse Abbey. Segundo informações do GE.com, antes das Olimpíadas de Tóquio, em 2021, o COI já havia feito um estudo para entender o tamanho da influência das apostas no ambiente olímpico e que, neste ano, às vésperas dos Jogos de Inverno de Pequim, a entidade se uniu a empresas do ramo para tentar evitar possíveis manipulações.
É o suficiente?
Lendo as entrevistas concedidas pelos representantes do Comitê Olímpico Internacional (COI), me parece claro que o órgão entendeu o problema que a expansão do mercado de apostas esportivas pode gerar a integridade do esporte, principalmente porque sabemos que nem todos os países – e aqui incluo o Brasil – possuem uma estrutura adequada para que os atletas possam viver do esporte.
E se os atletas não conseguem ter estabilidade, são alvos fáceis para criminosos e redes de manipulação de resultados. É necessário agir para reforçar os conceitos que abrangem os jogos olímpicos e também me parece muito urgente que se construa, com muita solidez e organização, um sistema de monitoramento eficaz e realmente preparado para identificar e agir em casos suspeitos.
Ainda em relação às declarações dos dirigentes do COI, nenhuma das entrevistas me passou confiança. Os cartolas olímpicos, apesar de entenderem o que acontece, talvez não tenham se dado conta do tamanho do problema que podem ter que enfrentar muito em breve. É sim importante ter as casas de apostas como aliadas pelo esporte legal e íntegro, mas também é fundamental agir. Não tem como terceirizar a responsabilidade nesse caso.
Há diversas formas de se trabalhar na proteção do esporte, dos atletas e das federações em relação à atuação de grupos criminosos que agem dentro do segmento das apostas esportivas. Há, inclusive, empresas especializadas nesse tipo de trabalho. O que o COI não pode fazer – e parece que é exatamente isso que tem feito – é negligenciar a situação e adotar medidas protocolares que não vão nem chegar perto de resolver a questão.
O ponto levantado por Lenny Abbey durante a entrevista ao GE.com, sobre possíveis esquemas de dopagem casado com um outro esquema de apostas esportivas, é algo grave e que mostra uma evolução gigantesca no nível dos grupos criminosos que estão agindo dentro do esporte. O COI já sabe disso. E acredito que ainda faz muito pouco para evitar que essas pessoas obtenham êxito em suas propostas nefastas. Os passos de tartaruga do COI são um começo e melhores do que nada, mas seguem longe de serem suficientes para combater os riscos que estão prestes a vivenciar.
Escrito por Sérgio Ricardo JR