Reflexões sobre as duas primeiras semanas da temporada na NFL
Já se passaram duas semanas de temporada na NFL e agora podemos afirmar algumas coisas com convicção, tais como: os Bills são o melhor time da história, os Chiefs estão acabados, os Dolphins são historicamente ruins, os Steelers são uma enorme decepção, os Browns são tão ruins quanto eram no ano passado e os Packers irão ao Super Bowl, não é mesmo? Claro que não!
Ao final da segunda semana da última temporada, os Saints estavam 2-0 W/L e haviam anotado um total de 91 pontos. Os Commanders eram 1-1 W/L e ninguém os apontava como uma equipe de playoffs. Os Rams e os Broncos, que chegaram aos playoffs posteriormente, estavam 0-2 W/L. Os Eagles, que se tornariam os campeões do Super Bowl, perderam para os Atlanta Falcons por 22×21 em um Monday Night Football, com uma sólida atuação de Kirk Cousins, que ao final da temporada já não era mais o quarterback titular de Atlanta.
Duas semanas correspondem a apenas 11,7% da temporada regular, e obviamente muita coisa mudará daqui até o final. É prudente evitarmos reações exageradas após apenas dois jogos. Isso, no entanto, não quer dizer que tudo o que aconteceu até aqui é irrelevante. Algumas equipes, de fato, parecem problemáticas, outras se destacaram, alguns times já perderam jogadores importantes por lesão e sinto que, em breve, veremos head coaches serem demitidos.
Algumas coisas me chamaram atenção, então esta coluna reúne algumas notícias relevantes, como as lesões de quarterbacks, e também as minhas impressões sobre as duas primeiras semanas de jogos.
Quarterbacks estão caindo como moscas
Não existe nada que atrapalhe mais o planejamento de uma equipe e influencie diretamente nas suas chances de classificação aos playoffs da NFL do que a perda do quarterback titular, de longe o jogador mais impactante no futebol americano. Em apenas duas semanas, cinco equipes se encontram nesta situação. Os 49ers, que sofreram com um surto de lesões na última temporada, foram o primeiro time a ficar desfalcado de seu quarterback, com Brock Purdy ausente da semana 2 devido a um problema no pé. Em seguida, foi a vez de Cincinnati Bengals e Minnesota Vikings que, curiosamente, se enfrentarão na semana 3, perderem seus quarterbacks, Joe Burrow e J.J. McCarthy, respectivamente.
Justin Fields, quarterback dos Jets, deixou o campo durante a derrota contra os Ravens e já foi descartado para a semana 3, enquanto Jayden Daniels, dos Commanders, que ganhou o prêmio de novato ofensivo da última temporada, não treinou durante a semana e a sua presença é questionada para a próxima partida. A lesão de Purdy não é grave, mas o quarterback já está descartado para o confronto divisional contra os Cardinals no próximo domingo, enquanto McCarthy deve ficar fora por, ao menos, três partidas. Fields e Daniels provavelmente não perderão muito tempo, mas a lesão de Burrow é a mais grave, com o quarterback fora, no mínimo, até o meio de dezembro, o que impacta bastante as chances dos Bengals.
Os Bills ainda são muito sortudos
Já abordei o caso dos Bills em colunas anteriores, na parte da série “Identificando Fraudes na NFL” e na coluna mais recente, sobre possíveis surpresas e decepções da temporada. O Buffalo venceu os Jets de forma legítima na semana 2, mas a vitória de virada sobre os Ravens na semana 1 foi mais um caso na longa lista de jogos em que os Bills venceram, mas se saíram muito piores do que o adversário. Assim como na derrota dos playoffs da última temporada, os Ravens superaram os Bills em média de jardas por jogada, com 8,6 contra 6,4, mas acabaram derrotados devido a um fumble do running back Derrick Henry, que desencadeou uma incrível virada na partida.
O Buffalo, que recuperou 75% dos fumbles na última temporada, está com 100% de aproveitamento no quesito após dois jogos este ano, com dois fumbles recuperados. Novamente, a sorte nos turnovers — e sim, é sorte — encobriu algumas falhas da equipe, que ainda tem apresentado sérios problemas na defesa. O que nos resta é ver até quando a maré de sorte do time continuará.
Jogamos como nunca, perdemos como sempre
Apontei os Cleveland Browns como uma possível surpresa para esta temporada no meu artigo anterior, mas agora eles estão com 0 vitórias e 2 derrotas, com um saldo de turnovers de -4. Cleveland terminou a temporada passada com 3 vitórias e 14 derrotas e o pior saldo de turnovers da liga (-22), então, à primeira vista, pouca coisa mudou. Isso, porém, não é bem verdade; de todos os times com 0-2 na liga no momento, os Browns foram os mais competitivos. No entanto, os turnovers, os malditos turnovers, levaram o time à campanha negativa.
Na estreia, eles dominaram os Bengals em jardas por jogada (4,6 a 2,9) e deveriam ter ganho o jogo, mas as duas interceptações do quarterback Joe Flacco acabaram levando o time à derrota. Na semana 2, Cleveland sofreu um blowout, perdendo por 41 a 17 para os Ravens, que talvez sejam a melhor equipe da liga. O placar, porém, não conta a história toda, já que, por jardas por jogada, as equipes fizeram uma partida bastante parelha, com Baltimore superando Cleveland por apenas 0,1 jarda em média. Os turnovers e uma baixa eficiência na red zone novamente contribuíram para a derrota, com Flacco lançando uma interceptação e perdendo um fumble.
Apesar da alta taxa de turnovers, Flacco não tem se saído tão mal no comando do ataque, enquanto a defesa tem sido tão boa quanto eu previ naquele artigo de surpresas e decepções. A substituição de Flacco por Dillon Gabriel ou Shedeur Sanders em algum momento parece inevitável, mas os Browns, pelo que mostraram nas duas primeiras partidas, merecem a atenção dos apostadores, já que o público, no geral, assumirá que este time é tão disfuncional quanto o da temporada passada, o que não parece verdade, ao menos não com base em como eles se saíram nas semanas 1 e 2 da NFL.
Será o fim dos Chiefs?
Bom, ainda é cedo, e eles provavelmente não são tão ruins quanto pareceram nos dois primeiros jogos. No entanto, os problemas apresentados contra Chargers e Eagles já estavam presentes na última temporada e parecem ter se agravado. Mahomes é um quarterback fantástico, obviamente, mas existe um limite até onde um ótimo quarterback pode manter o time competitivo. Rashee Rice (suspenso) e Xavier Worthy (lesionado) retornarão ao time em algum momento, mas, por ora, a escassez de alvos tem limitado o ataque do Kansas City, enquanto a linha ofensiva não tem fornecido boa proteção ao quarterback que, pressionado, tem sido obrigado a se livrar da bola rapidamente — o que não tem funcionado com o limitado grupo de recebedores atual.
A defesa, que manteve um bom nível nos dois últimos anos de NFL, também apresentou falhas nos dois primeiros jogos, especialmente na secundária, onde Chamarri Conner e Jaden Hicks, agora titulares, tiveram péssimas exibições nas duas primeiras semanas. Um início de 0-2 W/L reduz significativamente as chances de classificação dos Chiefs aos playoffs, já que, historicamente, apenas 10% dos times que perdem os dois primeiros jogos acabam se recuperando e obtendo a vaga. Mas, com Andy Reid e Patrick Mahomes, ainda é cedo para descartarmos a equipe.
Liam Coen entende de jogo terrestre
Novo head coach do Jacksonville Jaguars, Liam Coen foi coordenador ofensivo dos Buccaneers na última temporada da NFL, uma equipe que produziu médias de 149,2 jardas terrestres por jogo e 5,3 jardas por tentativa de corrida, ambas entre as cinco melhores marcas da liga. Nos Jaguars, ainda que em uma amostra limitada, Coen tem repetido o sucesso. Nas duas primeiras partidas, o ataque de Jacksonville, que teve média de apenas 4,2 jardas por tentativa de corrida no ano passado, produziu incríveis 169,5 jardas terrestres em média por jogo e 5,7 jardas por tentativa de corrida. Travis Etienne, principal running back da equipe, passou de 3,7 jardas em média por carregada na temporada passada para 7,1 nos dois primeiros jogos deste ano, tudo graças ao excelente sistema de Coen.
Os Jaguars (1-1) só não foram mais impressionantes na parte ofensiva porque o quarterback Trevor Lawrence decepcionou nas duas primeiras partidas, completando apenas 58,9% dos passes e lançando 3 interceptações. Se Lawrence se recuperar, a equipe tem potencial para ser uma das surpresas desta temporada, especialmente porque a defesa não pareceu tão ruim quanto o esperado nas duas primeiras partidas.
As linhas ofensivas que não conseguem proteger quarterbacks
Steelers, Bengals e Vikings
Proteger o quarterback é fundamental para o sucesso do ataque na NFL, e essas três equipes falharam nisso nos dois primeiros jogos. Ironicamente, Burrow e McCarthy, excessivamente pressionados, se lesionaram e agora desfalcarão suas equipes por um tempo. No entanto, Aaron Rodgers, de longe o mais velho dos três, se manteve intacto, pelo menos até o momento. Das três equipes, apenas os Vikings não negligenciaram a OL durante a offseason. O Minnesota, na verdade, fez grandes investimentos no setor, reformulando todo o interior da linha ofensiva com as chegadas de Ryan Kelly e Will Fries, que vinham de um bom ano pelos Colts, e a escolha de Donovan Jackson na primeira rodada do último draft. Os retornos iniciais, porém, foram os piores possíveis, com McCarthy pressionado em 29,6% dos dropbacks, sofrendo sacks 18% das vezes. McCarthy não esteve bem nas duas primeiras partidas, longe disso, mas a linha ofensiva foi em grande parte culpada pelo fracasso ofensivo dos Vikings na semana 2. O Minnesota, porém, não contou com o left tackle Christian Darrisaw nos dois primeiros jogos, então, diferente de Steelers e Bengals, a linha terá um reforço significativo em algum momento da temporada na NFL.
O que esse cara ainda está fazendo aí?
Os head coaches Brian Daboll (Giants) e Mike McDaniel (Dolphins) entraram na temporada como patos mancos e agora combinam para uma campanha de 0-4 nas duas primeiras semanas. Ambos tiveram trajetórias semelhantes, levando as suas equipes aos playoffs logo no primeiro ano, mas com os seus times apresentando uma piora a cada temporada. Ambas as equipes carecem de talentos e os seus head coaches não apresentaram capacidade de promover ajustes após os seus sucessos iniciais. Neste momento, parece improvável que esses times apresentem uma melhora significativa a ponto de salvarem o cargo de seus técnicos, com a demissão ainda durante a temporada sendo o cenário mais provável para ambos.
Daniel Jones, de repente, é bom?
Falando de Giants, o muito criticado ex-quarterback da equipe teve um início de temporada bastante promissor pelos Indianapolis Colts, que venceram seus dois primeiros jogos, com Jones completando 71,4% dos passes para uma média de 9,3 jardas por tentativa, 2 touchdowns, 0 interceptações e rating de 111.1, números dignos de MVP. Jones, obviamente, não é bom neste nível, mas o quarterback não teve uma chance justa com os Giants, que falharam em fornecer armas e proteção durante toda a sua estadia como QB titular de New York. Jones sempre foi muito criticado por mídia esportiva e torcedores, sempre ávidos por mudanças, mas que nunca refletem sobre as consequências.
A verdade, é que examinando seus números da carreira, vemos um quarterback sólido, ainda que não espetacular. Além dos problemas da linha ofensiva dos Giants, Jones foi um dos quarterbacks que mais sofreram com drops desde que entrou na liga em 2019, com 5,4% de seus passes resultando em drops. Jones também apresentou evolução ao longo da carreira, que acabou mascarada pelo insucesso da equipe. Em suas três primeiras temporadas, o quarterback teve uma porcentagem estimada de passes ruins de 17,9%, com 74% dos passes fornecendo chances claras de captura aos recebedores, números que melhoraram para 12,6% e 80% respectivamente nos últimos três anos, ainda que a profundidade média por passe tenha caído um pouco, o que contribui para uma melhor precisão.
Esses foram os tópicos que me chamaram atenção nas duas primeiras semanas da NFL.
Deixei muita coisa de fora para que a coluna não ficasse muito extensa, mas sempre que sentir necessidade, retornarei com outras reflexões sobre a temporada.
Gustavo Zambrano
#BetBra
Leia também:
Prévia da Casa: tudo sobre a 5° rodada da Premier League
A diferença entre casas de apostas confiáveis e fraudulentas
O viés da confirmação nas apostas esportivas
IBJR lança site de checagem instantânea sobre bets regulamentadas
A nova rota de crescimento do mercado brasileiro de apostas e iGaming
Cassinos e apostas em espaços físicos podem gerar R$ 20 bilhões